A inflação medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) fechou agosto com alta de 0,37%, ante uma variação positiva de 0,16% em julho, informou nessa terça-feira o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). No acumulado deste ano até agosto, o indicador registra alta de 4,42%, enquanto que nos últimos 12 meses a expansão chega a 7,23%, a maior desde junho de 2005, quando ela ficou em 7,27%.
O resultado de 12 meses se afasta ainda mais do teto da meta do governo para a taxa em 2011, que é de 6,5%. O IPCA é o índice oficial usado pelo Banco Central (BC) para cumprir o regime de metas de inflação, determinado pelo Conselho Monetário Nacional.
Seis entre os nove grupos que compõem o indicador tiveram aceleração de preços na passagem de julho para agosto, contribuindo para a alta de 0,37%. No mês passado, aceleraram os preços de habitação (de 0,27% em julho para 0,32% em agosto), especialmente do aluguel residencial (de 0,46% para 1,06%), item que exerceu o segundo maior impacto no mês no IPCA (0,03 ponto percentual), e da taxa de água e esgoto (de 0,33% para 1,05%), que se deve ao reajuste de 8,80% ocorrido em 1º de agosto nas tarifas do Rio de Janeiro (7,62%) e de 7,21% nas de Porto Alegre (0,23%), vigente desde 1º de julho.
Já a alta dos eletrodomésticos (de -0,32% para 2,38%), com destaque para refrigerador (de -0,29% para 3,29%) e máquina de lavar (de -1,58% para 3,18%), influenciou o resultado do grupo artigos de residência (de 0,03% para 0,57%). Os artigos de vestuário (de 0,10% para 0,67%) também contribuíram para a maior taxa de agosto do IPCA, com destaque para roupas femininas (de -0,26% para 1,18%) e masculinas (de 0,19% para 0,75%), refletindo o fim das promoções de inverno e a entrada da coleção primavera-verão.
Os salários dos empregados domésticos (de 1,26% para 0,72%), embora tenham continuado em alta, subiram menos que no mês anterior. Mesmo assim, o grupo das despesas pessoais (de 0,49% para 0,50%) apresentou resultado muito próximo ao do mês anterior, já que outros itens mostraram alta, como os serviços de cabeleireiros (de -1,10% para 0,97%).
O grupo educação teve pequena alta (de 0,11% para 0,17%). Os colégios variaram 0,11%, enquanto os cursos diversos (informática, idioma etc) apresentaram alta de 0,91%. Alimentação e bebidas também teve aumento de preços, passando de uma queda de 0,34% em julho para uma alta de 0,72% em agosto. Por outro lado, caíram os preços de transportes (de 0,46% para -0,11%) e comunicação (de -0,04% para -0,06%). O grupo saúde e cuidados Pessoais registrou desaceleração de 0,47% para 0,43%.
Meta - O teto da meta inflacionária de 2011, de 6,5%, está "seriamente ameaçado", nas palavras do coordenador de Análises Econômicas da Fundação Getulio Vargas (FGV) Salomão Quadros. Ele lembrou que o IPCA já acumula alta de 7,23% em 12 meses até agosto, e que seria difícil diminuir esta taxa até o final do ano, tendo em vista as pressões ainda existentes de aumentos de preços no varejo para os próximos meses. "Tem espaço (para queda) ainda, mas ficou bem mais difícil", avaliou.
Para o especialista, na decisão do Copom na semana passada, de corte de 0,50 ponto percentual na taxa básica de juros (Selic), para 12% ao ano, houve uma "ruptura" no código de comunicação entre mercado e Banco Central. Na análise do especialista, isso, na prática, não conduz a um efeito imediato na taxa acumulada do IPCA, tampouco age como obstáculo direto e instantâneo à estratégia de combate à inflação do varejo.
Mas admitiu que a decisão do BC mexeu e muito com as expectativas inflacionárias, que são formadas a partir da comunicação entre o banco e o mercado. "Toda vez que o BC toma decisões que fogem do padrão, o mercado se assusta. Esta decisão (de corte da Selic) pode até se mostrar correta futuramente, mas, respeitando os preceitos da comunicação entre BC e mercado, eu esperaria que esta decisão fosse tomada de uma forma mais gradativa. Como ocorreu, dá margens a muitas interpretações", afirmou. (AE)
Veículo: Diário do Comércio - MG