O ano de 2011 deve terminar como previa o Banco Central (BC), com a inflação dentro da meta estipulada, entre 2,5% e 6,5% ao ano. Segundo economistas, embora agosto tenha apresentado aceleração dos preços em comparação a julho, a alta já era esperada e o último trimestre forçará a queda do índice em 12 meses.
O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), divulgado na terça-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), registrou alta de 0,37% na comparação mensal. Em julho, a alta foi de 0,16%. No ano, o indicador chega a 4,42%, e a 7,23% em doze meses.
Entre os subindicadores presentes no cálculo da inflação oficial, o IPCA, Alimentação e Bebidas e Vestuário foram os que sofreram maior variação no mês, de -0,34% para 0,72% e de 0,10% para 0,67%, respectivamente.
De acordo com Mauro Schneider, economista da Corretora Banif, o peso dos alimentos na variação do IPCA determinará a inflação ao final de 2011. "A volatilidade das commodities muda as projeções. Uma desaceleração do mercado internacional pode causar recuo nos preços, mas problemas climáticos podem gerar uma restrição de oferta, evitando a queda", explicou o economista. A estimativa de Schneider para o IPCA ao final do ano coincide com o teto da meta, de 6,5%.
IGP-DI acelera
A Fundação Getúlio Vargas (FGV) apresentou o Índice Geral de Preços - Disponibilidade Interna (IGP-DI), com acréscimo de 0,61% em agosto, contra deflação de 0,05% em julho. Carne bovina (4,74%), aves (9,02%) e açúcar cristal (11,51%) foram os que mais pesaram na alta do Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPA), de 0,77%, com maior influência na composição do IGP-DI.
Para Guilherme Dietze, assessor econômico da Fecomércio, a inflação deve recuar até o final de 2011 para cerca de 6% segundo o economista. "Teremos taxas mais adequadas do que no ano passado", disse Dietze.
Outro ponto que favorecerá a queda da inflação são as medidas macroprudenciais adotadas em dezembro de 2010. Schneider afirma que os efeitos destas medidas de restrição ao crédito têm um reflexo tardio na economia. "Esperamos que haja acomodação a partir do quarto trimestre", disse o economista.
Para os analistas, a nova fase da crise externa, apontada como a principal influência para o corte de 0,5 ponto percentual na Taxa Básica de Juros (Selic), cria maior incerteza na economia quanto a 2012. Há poucas semanas, um grande banco brasileiro determinou um corte agressivo do crédito empresarial, seguindo a linha do temor internacional. Caso a decisão seja generalizada entre as instituições financeiras, existirá um choque de oferta no mercado.
Segundo o doutor José Ricardo da Costa e Silva, professor de Macroeconomia do Ibmec, calcular uma estimativa do IPCA para 2012 é inviável devido à complexidade do momento. "Enquanto a crise contém os preços, pode ocorrer este choque de oferta, além de que no Brasil existe um grau de indexação elevado. A trajetória para o centro da meta em 2012 não está tranquila", alertou.
A expectativa para a divulgação da ata de reunião do Conselho de Política Monetária (Copom), agendada para hoje, aumenta à medida que crescem as dúvidas quanto ao rumo tomado pelo Banco Central. Para o doutor Daniel Miraglia, professor da Business School São Paulo (BSP), o sistema de metas para a inflação adotado pela equipe econômica se tornou uma incógnita. "O BC tem de mostrar onde está atuando, caso contrário a inflação, que pode vir acima da meta neste ano, se propagará em 2012", avisa o doutor. "O BC está vendo um cenário que nós não vemos. Está pensando apenas nos efeitos sobre a China e no mercado externo, para a inflação ele não olhou", completa o professor.
André Perfeito, economista da Gradual Investimentos, se diz apreensivo quanto à divulgação da ata de reunião. "O corte de 0,5 ponto percentual não se traduz no cenário atual. O IPCA e o IGP-DI vieram em linha com as expectativas. O mercado ficou com a sensação de que o copo está meio cheio, não meio vazio", diz Perfeito, sobre o medo de que as medidas do Copom tenham sido demasiadamente apressadas.
Veículo: DCI