A utilização da capacidade instalada na indústria brasileira, um indicador de pressões inflacionárias, diminuiu em agosto, assim como outras medidas do setor, mantendo a trajetória de arrefecimento da atividade. O uso da capacidade caiu para 82,1% em julho, contra 82,4% em junho, conforme dados da Confederação Nacional da Indústria (CNI), divulgados na última terça-feira. Com o recuo, o segundo consecutivo, o indicador foi ao menor patamar desde fevereiro do ano passado, quando estava em 80,9%. A UCI chegou a 82,8% em julho do ano passado.
O recuo na capacidade instalada, porém, é o dado mais deteriorado entre os apresentados pela CNI. Já o faturamento real da indústria em julho cresceu 0,6% ante o mês anterior, no dado dessazonalizado, e acumula uma alta de 5,1% nos sete primeiros meses do ano. Mesmo assim, esse crescimento está abaixo do ritmo de igual período do ano passado, considerado um ano excelente para indústria, quando o faturamento acumulava alta de 11,3%.
As horas trabalhadas tiveram alta de 1,2% na comparação com junho, depois de dois meses seguidos de queda. Para a CNI, mesmo positivos esse dados não afetam a tendência de desaquecimento. "Há uma clara tendência de desaceleração. A indústria vai crescer, mas num ritmo menor", afirmou o economista-chefe da CNI, Flávio Castelo Branco.
Para ele, a redução da taxa de juros em 0,5%, para 12%, deve ter efeito limitado na indústria, ainda pressionada pelo cenário externo. "No cenário mundial de turbulência e incerteza, a redução da taxa de juros vai se refletir internamente, mas não vai favorecer o crescimento da indústria brasileira no médio prazo."
Apesar da margem maior da capacidade instalada, a CNI considera que as pressões inflacionárias não devem se arrefecer, porque mesmo que o parque industrial não cresça a demanda do consumidor continua e está "vazando" para o mercado externo, graças a uma valorização do real.
Entretanto, apesar de a CNI acreditar que o Natal de 2011 não será tão bom para a indústria como o do ano passado, muitos fabricantes já apostam as fichas nas vendas da melhor época do ano.
Para Ricardo Selmi, presidente da Selmi Alimentos, tradicional produtora de massas de macarrão e farinha, é a partir de outubro e novembro que se começa a sentir mais intensamente o incremento das vendas para as festas de fim de ano. "Alguns produtos se destacam, como goiabinha, cookies, macarrão tricolor, e azeite, entre outros produtos e grande parte do volume acontece nesta época devido às cestas de Natal", explica o presidente da empresa, que recentemente diversificou seus negócios entrando nos segmentos de biscoitos, massa para bolo e até óleo.
Para essa época, Selmi prevê um aumento de 5% a 10% no volume de vendas. Atualmente, a fabricante, dona das marcas Renata e Galo, possui uma capacidade de produção mensal de 18 mil toneladas de massa, 3 mil de farinha e mistura para bolo, mais 3 mil para biscoitos e 800 toneladas de bolos e bolinhos, e espera crescer no ano 22% em comparação a 2010 segundo o presidente.
Do setor de calçados, item forte em vendas durante as festas de final de ano, a Ramarim espera crescer em torno de 10% em relação a igual período de 2010. "A capacidade produtiva da empresa está plenamente alinhada com as perspectivas de encomendas para o período de final do ano", diz o diretor, Jakson Wirth.
Eletrônicos
A indústria de eletroeletrônico não reduz suas expectativas em relação à melhor época de vendas do setor no ano. A coreana Samsung diz que vem registrando um crescimento significativo no mercado de câmeras digitais. Segundo o vice-presidente de Eletrônicos de Consumo da Samsung, José Fuentes, a fabricante coreana teve as vendas de TVs ampliadas em 6% e 11% nas de câmeras digitais e celulares.
"Nossa produção já está fortemente alocada para o Natal, afinal os grandes varejistas já encomendaram produtos para serem comercializadas deste mês até dezembro", disse Fuentes. O executivo ressalta que em 2010 a indústria experimentou um ano de grande crescimento e, mesmo após a estabilidade do mercado, a expectativa é de um crescimento de 15% nas vendas do Natal de 2011 em comparação com o ano passado.
Fuentes lembra que a classe C já fez e vai continuar a fazer a diferença, junto com as classes A e B. "Um bom exemplo do crescimento está na venda das câmeras digitais, onde não só o portfólio de entrada como os itens mais especiais tem registrado aumento na demanda", acrescenta.
A conterrânea LG também tem vivido um bom ano, chegando a ter um crescimento de 6% no primeiro trimestre em relação a igual período de 2010. No primeiro semestre as vendas de televisores de tela fina foram 1% maiores que as do ano anterior. "Devemos fechar 2011 com alta de 40% neste item em relação ao ano anterior, diz o diretor-comercial das áreas de TV e Áudio e Vídeo e de linha Branca da LG Electronics, Roberto Barboza, acrescentando que há três meses o grupo começou a preparar a fábrica para atender à demanda de fim do ano.
Na área de telefones celulares e monitores, porém, a LG sente mais forte a desaceleração e já cortou 200 funcionários na unidade de Taubaté. Além disso, a empresa mantém 800 funcionários em licença remunerada até amanhã.
Veículo: DCI