O Índice de Commodities Brasil (IC-Br) registrou queda de 0,16% em agosto comparado ao observado no mês anterior, divulgou ontem o Banco Central (BC). Essa retração do indicador foi menor do que a de julho passado, quando houve redução de 3,34% ante o mês anterior. No acumulado do ano até agosto, a desvalorização está em 2,12%.
O analista da Tendências Consultoria, Thiago Curado, entende que, quando analisado o resultado em 12 meses, o indicador mostra uma redução dos preços das commodities. Porém, a forte demanda mundial por alimentos tende a manter os preços em alta, o que pressiona a inflação brasileira. "Até novembro veremos, ainda, alta dos preços dos alimentos, de forma a ter uma piora generalizada das commodities agrícolas, o que impactará na nossa inflação", diz ele, cuja expectativa é de que o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) feche em 6,6% neste ano, ligeiramente acima do teto da meta, de 6,5%.
De fato, o IC-Br mostrou que a queda foi proporcionada pelo segmento de energia - queda de 3,07% no mês passado - e pelo setor de metal - retração de 2,59%. No entanto, o avanço de 1,96% no segmento Agropecuária contrabalançou a queda nos dois outros subíndices.
"As commodities agrícolas são mais resistentes a qualquer variação do cenário internacional. Com a recessão mundial, há uma diminuição da produção industrial, o que puxa a queda dos preços de itens como minério de ferro, cobre e zinco. Por isso, houve retração dos preços de metais. Assim, como acontece com o petróleo, a influenciar na baixa do segmento de energia", explica o professor da Fia e diretor-presidente da Fractal, Celso Grisi.
Por outro lado, o indicador do BC mostrou que houve um crescimento de 18,23% em agosto deste ano ante o mesmo período de 2010. Nessa base de comparação, Agropecuária e Energia acumularam ganhos de 23,84% e 13,86%, respectivamente, acima da inflação de 7,40% no período de acordo com os últimos dados sobre o IPCA divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
De acordo com o BC, a leitura de agosto do IC-Br foi na contramão do movimento das commodities globais. O índice CRB, referência mundial para o mercado de matérias-primas, teve no mês passado alta de 0,43% e de 1,11% neste ano.
Celso Grisi ressalta, porém, que os dados do BC "não batem" com os resultados das commodities em bolsas - que privilegia o segmento agrícola -, divulgado pela Reuters, "já que em agosto este indicados apresentou alta de 0,9%, e não queda".
Tendência
De qualquer forma, o diretor presidente da Fractal prevê que haverá uma estabilidade dos preços dos alimentos no atual patamar pelo menos nos próximos 10 anos. "Não vejo no curto prazo uma mudança. Só se houver um profundo agravamento da crise internacional - a diminuir o consumo mundial e, assim, o valor das commodities. No Brasil, teremos que conviver com uma inflação pressionada pelos alimentos, mas nada que comprometa o objetivo de atingir a meta. O que devemos nos preocupar é com o setor de energia, pois não somos grandes produtores de gás e petróleo", analisa Grisi.
Já o analista da Tendências projeta que os preços dos alimentos devem reduzir a partir do próximo ano. Assim, a influência deste segmento na inflação brasileira também deve diminuir. "Acreditamos que o IPCA feche 2012 em 6%, mais influenciado por questões internas - como a defasagem entre a oferta e demanda -, do que pelo cenário internacional. De qualquer forma, a situação no ano que vem está mais tranquila", analisa Curado.
O Banco Central, contudo, entende que houve "substancial deterioração" no cenário externo, o que contribuirá para a moderação da atividade doméstica e, consequentemente, para a inflação, conforme apontou a ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) divulgada nesta quinta-feira.
No encontro realizado na semana passada, os diretores da autoridade monetária decidir reduzir a taxa básica de juros, de 12,50% para 12% ao ano.
Veículo: DCI