As famílias de baixa renda voltaram a sentir os efeitos da inflação, após dois meses em deflação. É o que mostra o Índice de Preços ao Consumidor - Classe 1 (IPC-C1), divulgado ontem pela Fundação Getulio Vargas (FGV). O indicador é usado para apurar impacto de preços entre famílias com renda mensal entre 1 e 2,5 salários mínimos, e que mostrou alta de 0,33% em agosto, após cair 0,25% em julho. Em junho, o indicador chegou a mostrar queda de 0,31%. Com este resultado, o índice acumula altas de 3,73% no ano e de 7,30% em 12 meses.
Mas a taxa do IPC-C1 em agosto ficou abaixo da variação média de preços entre famílias mais abastadas, com renda mensal entre um e 33 salários mínimos, mensurada pelo Índice de Preços ao Consumidor - Brasil (IPC-BR), e que subiu 0,40% no mesmo mês. A taxa de inflação acumulada no ano do IPC-C1 também foi menor do que a apresentada pelo IPC-BR no mesmo período (4,17%). Mas no acumulado em 12 meses até agosto, o IPC-C1 registra elevação mais intensa do que a registrada pelo IPC-BR, no período (7,10%)
Três das sete classes de despesa usadas para cálculo do índice tiveram acréscimos em suas taxas de variação. o caso de alimentação (de -0,92% para 0,52%), saúde e cuidados pessoais (de 0,18% para 0,46%) e habitação (de 0,29% para 0,43%). Houve, respectivamente, fim de queda de preços e acelerações nos preços de frutas (de -2,03% para 8,51%), artigos de higiene e cuidado pessoal (de 0,05% para 0,83%) e taxa de água e esgoto residencial (de 0,00% para 1,28%).
Em contrapartida, houve queda e desaceleração de preços em quatro grupos. o caso de vestuário (de 0,52% para -0,66%), educação, leitura e recreação (de 0,11% para 0,01%), despesas diversas (de 0,20% para 0,11%) e transportes (de 0,02% para 0,00%).
Entre os produtos pesquisados, as mais expressivas elevações de preços foram detectadas em limão (97,18%), leite tipo longa vida (3,88%) e aluguel residencial (0,71%). Já as mais expressivas quedas foram registradas em batata-inglesa (-22,68%), alho (-11,51%) e cebola (-12,86%).
Pressão - A disseminação de aumentos de preços no setor de alimentação norteou o fim da deflação no IPC-C1, que avançou 0,33% em agosto, após ter caído 0,25% em julho. Segundo o economista da FGV, André Braz, as elevações de preços em agosto atingiram principalmente alimentos considerados de difícil substituição nas refeições das famílias de baixa renda.
o caso das elevações em arroz branco (3,14%), feijão carioca (1,8%) e bovinos (1,33%). Além disso, os aumentos de preço atingiram itens in natura, de grande peso na cesta básica, como frutas (8,51%). Braz alertou que o núcleo do IPC-C1 deu um salto de julho para agosto (de 0,15% para 0,46%).
Usado para mensurar tendências, o núcleo é calculado a partir da exclusão das principais quedas e mais significativas altas de preço no setor varejista. Esta aceleração na taxa do núcleo, na prática, comprova a disseminação em agosto de elevações de preços em todos os setores varejistas, não somente em alimentação. "Creio que o núcleo pode ficar operando a taxas de 0,30% a 0,40% nos próximos meses", afirmou.
Projeção - Para os próximos meses, as famílias de baixa renda não devem mais experimentar cenário de deflação. O mais provável é que o IPC-C1 volte a mostrar pequenas taxas positivas. Isso porque há uma expectativa de reajustes em preços administrados para os próximos meses, principalmente em telefonia fixa, que tem impacto expressivo no cálculo do indicador.
Além disso, os preços dos alimentos podem continuar a mostrar um cenário mais "espalhado" de aumentos de preços. "Podemos esperar novas elevações no IPC-C1, mas não tão elevadas quanto as taxas do indicador nos últimos meses do ano passado", disse, lembrando que, no segundo semestre de 2010, uma onda de elevações de preços nas commodities puxou para cima os preços dos alimentos no varejo, naquele período.
Veículo: Diário do Comércio - MG