O Banco Central (BC) terá de intensificar o combate a inflação no último trimestre, apontam especialistas. De acordo com eles, o resultado do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo - 15 (IPCA-15) de setembro divulgado ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), prévia da inflação oficial, mostra que o IPCA fechado continua pressionado. Isso somado ao fato de que no último mês a cotação do dólar já subiu 11%, o que gera alta sobre os índices.
No cálculo do IBGE feito para compor o IPCA-15 - entre o período de 13 de agosto a 13 de setembro e comparados com aqueles vigentes de 14 de julho a 12 de agosto -, o indicador aumentou 0,53%, 0,26 ponto percentual superior a taxa de agosto, quando subiu 0,27%. A variação também foi a maior para o mês desde 2003. Em setembro de 2010, a taxa havia sido de 0,31%.
Segundo o IBGE, a variação deste mês foi influenciada pelos preços dos alimentos e, principalmente, pelas passagens áreas, que lideraram a relação dos principais impactos no mês.
Para viagens em setembro, os vôos disponíveis subiram, em média, 23,40% em relação à média daqueles que foram disponibilizados para viagens ao longo de agosto. Pelo cálculo do instituto, isso fez o grupo transportes pular para 0,70%, ao passo que em agosto havia ficado em 0,03%, somente. Sobre os combustíveis, o preço do etanol subiu ainda mais, ao passar de 1,54% para 1,95%, enquanto a gasolina, que havia apresentado queda de 0,17% em agosto, foi para 0,65% em setembro.
No caso dos alimentos, os preços apresentaram alta de 0,72%, ao subir mais do que em agosto (0,21%), de modo a voltar a pressionar o IPCA-15 de forma significativa, com impacto de 0,17 ponto percentual.
De acordo com IBGE, vários produtos ficaram mais caros, destacando-se açúcar cristal (4,72%) e refinado (4,59%), leite pasteurizado (2,64%), frango (2,51%), carnes (1,79%) e arroz (1,74%). Com isto, o grupo alimentação e bebidas acumulou alta de 4,29% neste ano.
O IPCA-E (IPCA-15 acumulado nos meses de julho, agosto e setembro) foi de 0,90 %, bem acima do resultado de igual período de 2010 (0,17%). O IPCA-15 acumulado no ano ficou em 5,04 %, acima de igual período do ano anterior (3,53%). Na perspectiva dos últimos 12 meses, ficou em 7,33%, acima dos 12 meses imediatamente anteriores (7,10%). Este resultado preocupa especialistas já que faltam pouco mais de três para o final do ano e o aumento da inflação mês a mês causa dúvidas se ficará dentro da meta, cujo teto é de 6,5%.
O professor do Ibmec, Gilberto Braga, diz que os números do IPCA-15 de setembro vão de encontro à expectativa do BC, apresentada na última ata do Comitê de Política Monetária (Copom) de que os indicadores mostravam que a inflação desacelerou. "Acredito que surpreendido mais o governo, do que o mercado."
Para ele, o avanço do IPCA-15 neste mês foi dado de forma consistente e não por efeitos sazonais. "O aumento das passagens aéreas deve ter ligação com a alta do dólar e a inflação de serviços manteve trajetória de alta, o que torna o controle da inflação ainda mais difícil", explica o professor do Ibmec, que espera que o IPCA feche próximo ou supere os 6,5%.
Da mesma forma avalia o professor da BBS - Business School, Ricardo Torres. "Acredito que a inflação possa até superar 7% neste ano", diz. "Assim, na minha opinião, o IPCA-15 mostra que foi precipitada a redução da taxa [básica de juros] Selic [de 12,50% para 12% ao ano]", afirma Torres.
No resultado mais recente divulgado pelo IBGE, a inflação acumula no ano até agosto taxa de 4,42%. Ao considerar os últimos 12 meses, o índice situou-se em 7,23%. Isto explica a desconfiança do mercado.
Contudo, a analista de inflação do Itaú Unibanco, Laura Haralyi, lembra que a expectativa é de menor inflação no quarto trimestre deste ano em relação ao observado no final de 2010, o que deve permitir o recuo do IPCA para próximo a 6,5%.
Se levar em conta que nos três últimos meses do ano passado, as variações foram expressivas -0,62% em outubro, 0,86% em novembro, e 0,69% em dezembro -, é possível considerar que terá que ocorrer altas muito intensas nos mesmos períodos para que ultrapasse o teto da meta. Por isso, a expectativa é que a inflação desacelere no quarto trimestre.
Braga estima que a solução para o BC é adotar mais medidas macroprudenciais, como estabelecer limites operacionais para crédito. Já Torres diz que o governo precisa fazer uma severa política de corte de gastos.
Veículo: DCI