A crise financeira internacional já reduziu a corrente de comercial brasileira. De acordo com dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Mdic), a forte volatilidade do dólar amedronta tanto o importador quanto o exportador. O resultado foi uma redução de mais de 56% no saldo comercial entre outubro e setembro. No ano, o recuo atinge 39,6%.
"O crescimento das exportações e das importações está sendo resfriado. A queda nas exportações em relação a setembro foi maior que nos outros anos e o aumento das importações foi bem menor do que nos anos anteriores", afirmou o secretário de Comércio Exterior, Weber Barral.
De acordo com ele, a principal surpresa veio com as importações. O governo esperava um aumento maior das importações em outubro por causa das compras de fim de ano, o que não aconteceu. Barral comentou que os produtos que demandam um sistema mais complexo de distribuição, como brinquedos e eletrônicos, chegam ao Brasil mais cedo, por volta de agosto. No entanto, a entrada dos não duráveis, como produtos alimentícios, é tradicionalmente concentrada em outubro, e não ocorreu neste ano. "Ao longo do ano as importações subiram muito e esperava-se uma forte alta em outubro, o que não aconteceu. Agora, o que não veio, não vem mais", afirmou.
Em números, as importações mostram um crescimento de 0,2% em outubro na comparação com setembro, enquanto nos anos anteriores foi registrado um crescimento entre 2% e 3%. Já a queda das exportações em outubro ante setembro foi de 7,5%, enquanto nos dois anos anteriores a redução atingiu 3,9% na mesma comparação. As importações de bens de consumo cresceram 30,2% em relação a outubro de 2007. No ano passado essa alta foi de 37%. As compras de duráveis cresceram 45,6%, mas a entrada de não duráveis cresceu apenas 11,7%, número que foi 35% no ano passado. Na comparação com setembro as compras de bens de consumo caíram 5,6%, sendo o recuo entre os não duráveis de 13,4%. Esse mesmo número foi positivo em 10,3% no ano passado. "Ao longo do ano as importações subiram muito e esperava-se uma forte alta em outubro, o que não aconteceu", resume Barral.
O item bens de capital, porém, apresentou alta de 39,4% frente a outubro de 2007. Frente a setembro, porém, houve queda de 3,9%, número já aguardado e resultado de efeito sazonal. Embora menor que em outros meses, em outubro as importações de todas as categorias de produtos cresceram em relação a outubro de 2007: combustíveis e lubrificantes (52,6%), bens de capital (39,4%), matérias-primas e intermediários (39,3%) e bens de consumo (30,2%).
Barral lembrou que as importações demoram mais para sentir os efeitos de uma redução global de demanda do que as exportações. Isso porque as vendas são reduzidas imediatamente diante de uma crise. Já os contratos de importação foram firmados anteriormente. As exportações são contabilizadas no momento do fechamento do contrato de câmbio. As importações, porém, entram na estatística quando o produto é desembaraçado na alfândega brasileira. O secretário explicou ainda que nos meses de outubro, é tradicionalmente esperada uma leve queda nas exportações, de cerca de 4%, em relação a setembro. Este ano, porém, esse recuo chegou a 7,5%. "É essa a diferença que pode ser explicada pelos efeitos da crise sobre a venda externa de produtos brasileiros", avaliou.
A redução da demanda por produtos brasileiros foi mais sentida nos produtos industrializados. Nesse item houve queda de 10,7% entre setembro e outubro, mas alta de 9,4% no mês passado na comparação com o mesmo mês de 2007. Nos produtos básicos a queda foi mais discreta, 3,3% frente a setembro e uma alta expressiva, de 27,8%, em relação a outubro.
Saldo
Com o ritmo menor do comércio exterior, a balança comercial brasileira apresentou em outubro um superávit de US$ 1,207 bilhão, resultado de exportações de US$ 18,512 bilhões e importações de 17,305 bilhões. Em comparação com setembro deste ano, a queda foi de 56,2%. Em comparação com outubro do ano passado, a redução chegou a 64,8%. No ano, de janeiro a outubro, o saldo comercial está positivo em US$ 20,845 bilhões, com uma média diária de US$ 98,8 milhões. Pela média, o superávit de 2008 já é 39,6% menor que o registrado no mesmo período do ano passado.
Mais uma vez a queda se deve à diferença de intensidade da expansão das exportações e das importações. No ano são US$ 169,372 bilhões em exportações, desempenho médio diário de US$ 802,7 milhões, valor 27,3% maior que a média diária das vendas internacionais registrada até outubro de 2007. As importações acumularam, de janeiro a outubro, US$ 148,527 bilhões com média diária US$ 703,9 milhões, cifra 50,8% acima da registrada como desempenho médio diário das importações em 2007.
A corrente comercial brasileira sofreu, em outubro, os primeiros impactos da crise financeira global. As exportações sofreram decréscimo sobre setembro, enquanto as importações subiram apenas 0,2%.
Veículo: DCI