"Ajustes moderados" de juros trarão inflação para meta em 2012, avalia BC

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Ao reiterar que "ajustes moderados" dos juros são consistentes com a queda da inflação para o centro da meta de 4,5% em 2012, o Relatório de Inflação, divulgado pelo Banco Central (BC), jogou por terra a expectativa de corte de 1 ponto percentual da Selic na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), como uma parte do mercado chegou a especular nos últimos dias. Ao final dos negócios, ontem, as apostas se dividiam entre queda de 0,75 e 0,50 ponto percentual.

Pela primeira vez, o Banco Central mencionou no relatório a elevada probabilidade de uma "recessão" nas economias avançadas e indicou que os preços das commodities podem cair, com efeitos benéficos para o controle da inflação.

Para este ano, o BC reduziu de 4% para 3,5% a perspectiva de crescimento da economia brasileira. As novas projeções do BC indicam que o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) só cairá para 4,5%, centro da meta fixada pelo governo, no segundo trimestre de 2013. Mesmo sem novas reduções da taxa básica de juros, hoje em 12% ao ano, a inflação se situaria em 4,7% no próximo ano.

Apesar disso, o presidente do BC, Alexandre Tombini, reiterou, durante entrevista em Curitiba, o compromisso de levar a inflação ao centro da meta de 4,5% ainda em 2012. O diretor de Política Econômica do BC, Carlos Hamilton Araújo, também acha que a inflação descerá a 4,5% já no próximo ano "É nesse sentido que vamos trabalhar. Os cenários são só um guia", disse.

Dois cenários em que os juros caem também foram utilizados. Mas nenhum apontou inflação igual ou inferior a 4,5% no horizonte de tempo considerado, até junho de 2013. No cenário em que a meta de taxa Selic cai a 11% ao ano ainda em 2011, permanecendo assim até fim do ano que vem, a inflação de 2012 fica mais alta, indo a 5%.

A inflação de 2011, sobre a qual nova mudança de juros não faria mais efeito, é projetada em 6,4% em todos os cenários. Mas existe grande probabilidade - entre 44% e 45% - que ultrapasse o teto da meta, de 6,5%.

Para Hamilton, a deterioração do mercado internacional vai segurar a inflação brasileira dentro do teto da meta neste ano. Os dados, segundo ele, apontam para uma tendência desinflacionária na maior parte das economias mundiais, o que afetará o comportamento doméstico. O viés desinflacionário, ou seja, inflação em ritmo menor, não depende do aumento da taxa de juros, disse.

Embora as projeções indiquem que a inflação demoraria mais a cair em caso de novo afrouxamento da política monetária, o economista-chefe do Bradesco, Octávio de Barros, vê no relatório sinais compatíveis com a sua previsão de três novos cortes na taxa básica de juros, de 0,5 ponto percentual cada um.

Na sua opinião, o BC dá sinal nesse sentido ao afirmar que, "ao mitigar tempestivamente efeitos vindos de um cenário mundial mais restritivo, ajustes moderados no nível da taxa básica são consistentes com o cenário de convergência da inflação para a meta em 2012".

Barros acha que não há ambiguidade no discurso, porque o BC aposta numa desaceleração forte da economia global, que ainda não estaria totalmente refletida nas projeções e que afetará o crescimento doméstico.

É no cenário alternativo, cujas premissas não foram explicitadas pelo relatório, que estão as melhores considerações do BC para a cena externa e os efeitos de uma recessão sobre os preços internacionais e, portanto, sobre a inflação doméstica.

Os impactos da crise nas economias da Zona do Euro e nos Estados Unidos chegariam ao Brasil pelos canais do comércio internacional, do preço de importações e volatilidade externa. O cenário alternativo pressupõe que essa será uma crise bem mais prolongada do que em 2008/2009, porém sem eventos extremos, como a quebra de um país ou de bancos na região do euro, embora hoje isso já não seja uma certeza.

Nesse caso, a atividade econômica doméstica se desacelera e, apesar de ocorrer depreciação da taxa de câmbio e de haver redução da taxa básica de juros, entre outros, a taxa de inflação cai mais do que cairia sem um problema desse porte.

Em 2011, o ritmo de crescimento da economia brasileira será menor do que o inicialmente previsto. A indústria deve ter expansão de apenas 2,3%. A de transformação, especificamente, menos ainda, pois a produção, nesse caso, aumentará apenas 1,5%.

A contribuição da demanda interna para a expansão anual do PIB é estimada em 4,5 pontos percentuais. Mas a retração da demanda externa neutralizará parte disso, exercendo impacto negativo de 1,1 ponto percentual na variação do produto. Esses números corroboram a previsão de que o principal canal de contágio da crise internacional seria o comércio exterior.

O BC mostrou-se preocupado com os aumentos salariais, em especial com a possibilidade de as negociações salariais atribuírem peso excessivo à inflação passada, realimentando a inflação futura. Esse risco fica maior pelo fato de que a inflação em 12 meses (7,23% no período encerrado em agosto) chega ao pico num momento de concentração de negociações salariais.


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