Cidade de Aracruz sente os efeitos da crise na sua maior companhia

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O prejuízo na Aracruz Celulose, causado pelas operações com derivativos, rompeu os limites das conversas de banqueiros e investidores para aterrissar na Aracruz "real", o município localizado a 80 quilômetros de Vitória, ao norte da capital do Espírito Santo. 

 

Diante da suspensão dos investimentos para modernização e expansão da unidade da Barra do Riacho, o maior complexo de produção de celulose de eucalipto do mundo, grande parcela da população de 77 mil habitantes vive apreensiva com o futuro da empresa. Demissões, perda de arrecadação, redução nos investimentos são algumas das preocupações. 

 

Os efeitos da crise na Aracruz-empresa, criada há 40 anos, já são sentidos na Aracruz-município, fundado em 1848, mas que leva esse nome desde 1943 e que batizou a fabricante de celulose. 

 

As empresas prestadoras de serviços da fabricante de celulose já começaram a demitir trabalhadores. O grupo Plantar, empresa com sede em Belo Horizonte, que faz o plantio e a manutenção de eucaliptos para a Aracruz, dona de 300 mil hectares de florestas, anunciou ao sindicato local que dispensará 750 dos cerca de 1 mil trabalhadores. Mais de 300 já estão cumprindo o aviso prévio. 

 

No viveiro de mudas, um dos maiores do mundo, a previsão é que sejam eliminados 400 dos cerca de 450 postos de trabalhos. "Mais de 90% são ocupados por mulheres, muitas semi-analfabetas, com poucas chances de arranjar empregos em outras áreas", afirma Davi Gomes, presidente do Sindicato dos Trabalhadores das Indústrias Extrativas de Madeira de Aracruz (Sintiema). 

 

A onda de demissões pode ser maior. Segundo o sindicato local, a Vix Logística decidiu eliminar 20 carretas que fazem o transporte de madeira para a fábrica de Aracruz, o que poderá levar a demissão de 60 motoristas. A transportadora não confirma a informação nem comenta o assunto. 

 

Até a empresa de recrutamento, responsável pela seleção de novos funcionários, foi dispensada. "Não haverá contratações nem estágio pelo próximo ano", disse uma fonte ligada às atividades da fábrica. 

 

"Todo mundo está acompanhando a situação do câmbio, torcendo para que o dólar caia", disse Davi Gomes, do Sintiema. A expectativa é que o impacto maior seja sentido nos primeiros meses de 2009, quando a quantidade de trabalhadores sem salário ou renda de seguro desemprego for maior. 

 

A Aracruz pretendia investir quase US$ 150 milhões em projetos de revitalização de sua fábrica mais antiga, inaugurada em 1978, além de prever a ampliação de Portocel, o porto administrado por ela e a Cenibra. Os projetos foram suspensos. Além disso, a Aracruz adiou os projetos de expansão no Rio Grande do Sul e na Veracel, na Bahia. Milhares de postos de trabalho deixarão de ser criados. 

 

Até agora, o número de empregos diretos da empresa na região, que representa 53% do total de quase 2,5 mil empregados da companhia, não foi afetado. A Aracruz não quis comentar o assunto, mas seu diretor de operações, Walter Lídio Nunes, afirmou, em nota, que a companhia pretende retomar os projetos assim que as condições de mercado permitirem. 

 

"O quadro de empregados próprios da Aracruz está bem dimensionado, mas, em função da suspensão temporária de investimentos, estão sendo revistos alguns contratos com prestadoras de serviços", afirmou Nunes, na nota. 

 

A prefeitura já se prepara para dias piores. Tendo a Aracruz como maior contribuinte do município, o prefeito reeleito Ademar Devens (PMDB) decidiu revisar o orçamento para 2009. A proposta orçamentária será reavaliada. A intenção é medir o impacto da crise causada pela Aracruz. 

 

Quarto maior município do Estado em receita, Aracruz previa um orçamento de R$ 282 milhões para 2009. Mas a estimativa foi cortada em R$ 42 milhões, para R$ 240 milhões, afetando principalmente as obras de infra-estrutura, embora vereadores digam que não chegará nem a R$ 200 milhões. A Aracruz Celulose respondeu por 96% da arrecadação do ICMS para o município no ano passado, que, por sua vez, representa 36% da receita mensal. Até agora, a empresa está em dia com o fisco. 

 

"Decidimos rever as receitas para o ano que vem. Já que a probabilidade é de haver uma diminuição no crescimento da economia, por conta da dificuldade de alguns setores, que afetam consideravelmente a arrecadação municipal", disse Devens. Uma comissão foi criada com o propósito de estudar o assunto. 

 

Em meio às notícias ruins da Aracruz-empresa, a grande aposta no município é que a Petrobras acelere os investimentos para o porto de Barra do Riacho, projeto de R$ 500 milhões para construção de um terminal para gás liquefeito de petróleo (GLP). 

 

Veículo: Valor Econômico


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