Importados ficam com 23,4% do consumo industrial

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As importações passaram a responder por 23,4% do consumo doméstico de bens industriais no terceiro trimestre deste ano, segundo dados atualizados pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). Esse percentual representa um pequeno ganho de espaço em relação à participação ocupada pelos produtos do exterior no trimestre anterior - o aumento no coeficiente de importação da indústria geral foi de 0,5 ponto. Esse aumento ocorreu em um cenário de aumento das exportações, combinado com leve alta da produção interna.

Para o diretor do Departamento de Relações Internacionais e Comércio Exterior (Derex) Roberto Giannetti da Fonseca, "praticamente um quarto do que o país consome vem de fora". Na indústria de transformação, o crescimento do coeficiente, em comparação ao segundo trimestre do ano, cresceu 0,8 ponto percentual, chegando a 22,3% do consumo doméstico.

No levantamento, de 33 setores da indústria pesquisados, 29 apresentaram alta no coeficiente de importação na comparação com o terceiro trimestre de 2010. Aqueles que mais dividiram espaço com os produtos importados foram os de tratores, máquinas e equipamentos para agricultura, com aumento de 9 pontos no terceiro trimestre, e metalurgia e metais não-ferrosos, com 4,6 pontos, ambos em relação ao terceiro trimestre do ano passado.

Do outro lado da balança, o coeficiente de exportação, que mede a participação das exportações na receita da indústria, cresceu, mas em um ritmo menor do que as importações. No terceiro trimestre de 2011, os produtos vendidos ao exterior representaram 20,2% do total da indústria, alta de 0,3 ponto percentual em relação aos três meses anteriores e de 1 ponto sobre o terceiro trimestre de 2010. Na indústria de transformação, o acréscimo foi menor, de 0,1 ponto sobre o segundo trimestre, passando a representar 17,1% do total. Na série com ajuste sazonal, a produção industrial total do país cresceu 0,1% entre julho e setembro.

Gianetti acredita que o aumento das importações evidencia uma desindustrialização do país, pois o produto estrangeiro está tomando lugar da produção nacional. "Estamos em um mundo globalizado, não é ruim importar. O problema é que a indústria não consegue competir aqui e tem que exportar, enquanto o consumo está sendo substituído pelos produtos de fora. E isso preocupa", afirma.

Alguns setores evidenciam esse quadro. Enquanto a siderurgia aumentou as exportações em 47,4% na comparação entre o terceiro trimestre de 2010 e o deste ano, a produção encolheu 1,5%. Na mesma comparação, no segmento de máquinas e equipamentos paras fins industriais e comerciais, as exportações aumentaram 26,7% enquanto a produção caiu 2,4%. O setor mais afetado no último ano foi o de calçados, que viu as exportações caírem 23,5% e a produção 11,5%, em igual intervalo.

Para Giannetti da Fonseca, três fatores devem favorecer a maior penetração de bens importados em 2012: o real valorizado, a demanda menor por parte das economias desenvolvidas e os incentivos fiscais que alguns Estados dão aos importados. "Esse é o cenário que devemos enfrentar", diz.

Mesmo a previsão de crescimento do país acima das maiores economias mundiais no ano que vem não vai mudar a situação da indústria nacional. "Veículos, geladeiras, bens de consumo duráveis, em geral, já estão dando sinais de arrefecimento na produção. Apesar da perspectiva de aumento de 4% do PIB no ano que vem, a indústria pode não crescer. Esse é o setor que mais sofre hoje na economia brasileira", afirma. A estimativa da Fiesp é de que o dólar feche o ano em R$ 1,80. Contudo, Giannetti acredita que a moeda americana precisaria valer R$ 2,00 para atenuar a penetração dos importados.

Outro entrave interno é o incentivo fiscal dado por Estados como Santa Catarina, Paraná e Pernambuco a importadores, que desembarcam as mercadorias para depois levá-las a mercados maiores dentro do país.


Veículo: Valor Econômico


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