De outubro para novembro, fatia de indústrias com produtos estocados além do normal deu um salto no setor de bens duráveis
A piora da crise internacional interrompeu o movimento de ajuste de estoques excessivos na indústria que estava em curso desde setembro. Isso fez aumentar no mês passado os volumes de geladeiras, máquinas de lavar, fogões, televisores e até veículos encalhados nas fábricas, aponta a Sondagem da Indústria de Transformação da Fundação Getúlio Vargas (FGV).
De outubro para novembro, a fatia de indústrias com estoques de produtos além da conta deu um salto no segmento de bens duráveis, cujas compras dependem de crédito e da confiança do consumidor em assumir novos financiamentos.
Os maiores crescimentos de estoques indesejáveis foram registrados nas fábricas de eletrodomésticos da linha branca, que acaba de ser beneficiada pela redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para seus produtos.
A sondagem aponta, por exemplo, que mais que dobrou, de 2,1% em outubro para 4,6% em novembro, o número de fabricantes de refrigeradores, máquinas de lavar roupas que informaram ter estoques acima do normal no mês passado. No caso de fogões e outros aparelhos elétricos de uso doméstico, a fatia de empresas com encalhe de produtos passou de zero em outubro para 17,7% em novembro.
Movimento semelhante ocorreu com televisores e automóveis. Em outubro, 2,8% das indústrias de televisores e outros aparelhos de áudio e vídeo tinham volumes de produtos acima do normal em seus armazéns. Em novembro, esse porcentual de empresas subiu para 6,4%.
Nas montadoras de automóveis, a parcela de empresas com estoques excessivos subiu de 10,9% para 14,8%, de outubro para novembro.
"Os estoques de bens duráveis vinham num processo de redução de setembro para outubro e agora voltaram a subir", afirma o coordenador técnico de sondagem industrial da FGV, Jorge Ferreira Braga. Segundo ele, essa mudança foi provocada pelo aumento das incertezas em razão da crise.
Emprego. A piora nas expectativas já estava contaminando as perspectivas de emprego para o período que vai de novembro a janeiro nesses setores. A sondagem mostra, por exemplo, que a parcela de empresas com intenção de demitir trabalhadores supera a que pretende contratar entre novembro e janeiro no segmento da linha branca.
"É por isso que o governo está entrando com essas medidas de estímulo ao consumo", observa Braga, enfatizando que a pesquisa foi feita com as indústrias entre os dias 3 e 29 de novembro, portanto antes do anúncio do corte do IPI.
Na avaliação do economista-chefe da LCA Consultores, Bráulio Borges, as medidas que o governo tomou na semana passada devem acelerar o processo de normalização dos estoques.
"Talvez em dezembro tenha uma melhora forte porque a sazonalidade ajuda. No Natal vendem-se 70% a mais de bens duráveis do que em outros meses do ano", constata Borges.
'Faca de dois gumes'. O economista diz que há boas chances de se chegar no primeiro trimestre de 2012 com uma situação melhor dos estoques de bens duráveis, principalmente daqueles que foram beneficiados por medidas de incentivo.
No entanto, ele pondera que essa estratégia de corte de imposto para estimular o consumo é uma "faca de dois gumes". Como o bolso do consumidor é um só, ele pode gastar com eletrodomésticos da linha branca e deixar de comprar outros produtos, como TVs, por exemplo.
Além disso, há risco de antecipação de compras que seria feita só mais para frente. "Nesse caso, estaremos roubando o crescimento de 2012", afirma o economista da LCA Consultores.
Veículo: O Estado de S.Paulo