Demanda não reduziu volume de estoques

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Mesmo com as vendas de fim de ano, as prateleiras do segmento no país continuam cheias.



A demanda do varejo do final do ano foi insuficiente para reduzir os estoques da indústria, segundo o gerente-executivo da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Renato da Fonseca. "Os estoques estão acima do desejado desde o início do ano", avaliou. Segundo ele, mesmo com as vendas de fim de ano e a queda da utilização da capacidade instalada, as prateleiras do setor continuam cheias. "Os estoques ainda estão subindo", avaliou.

De acordo com o gerente-executivo, há competição direta com os produtos importados, o que mostraria a diferença do desempenho do comércio e da indústria. Ele ressaltou, porém, que o setor também ampliou o volume de itens importados em seus produtos manufaturados. Por conta disso, o segmento de eletroeletrônicos é o que possui maior descolamento na comparação do faturamento com as vendas comércio.

Fonseca explicou que é o crescimento dos estoques que está por traz da redução da produção industrial, demonstrada pelo Nível de Utilização da Capacidade Industrial (Nuci). O que os empresários desejam, conforme o executivo, é que os estoques sejam reduzidos. Segundo ele, ainda não é possível verificar o impacto das medidas anticrise anunciadas na semana passada pelo governo. "Estamos analisando política de combate à crise. Temos que ver quão eficazes as medidas serão".

Outra incógnita do setor, conforme Fonseca, é a forma como a crise internacional chegará ao Brasil. "Na crise passada (2008), chegou por meio dos produtos manufaturados e do menor crédito para as empresas", pontuou. Por isso, segundo ele, o comércio pode se recuperar mais facilmente dos reflexos da turbulência internacional.

"Agora não temos um cenário de manufaturados muito bom para exportação. A crise deve entrar por meio da competição com importados, já que estamos em um cenário de menor demanda mundial", analisou.

O gerente da CNI ressaltou também que a queda da utilização da capacidade instalada é fruto dos investimentos feitos no passado e que contavam com a aceleração da atividade, o que não ocorreu. "O ideal era ter um Nuci constante e não esta queda que estamos vendo. A queda é provocada por um descasamento de demanda mais fraca do que as decisões de investimentos e estoques".

Fonseca disse ainda que a redução do Nuci deve afetar o planejamento dos investimentos no País, ainda que isso não ocorra de forma automática. "Quando o Nuci está maior é um estímulo a mais para investir. Não faz sentido investir quando está em baixa, pois o custo para produzir é maior", disse.

Nuci - Segundo a CNI, o Nuci de outubro ficou em 81,4%, nível muito próximo do verificado em setembro, quando registrou taxa de 81,7%. O dado, dessazonalizado, foi divulgado ontem. De acordo com a entidade, o faturamento real registrou alta de 1,4% em outubro, na comparação com setembro, já com ajuste, e de 6,1% em relação a outubro do ano passado.

Para a CNI, os indicadores industriais de outubro mostram um quadro que vem se repetindo desde o fim do segundo trimestre deste ano. "O faturamento real mantém uma trajetória de crescimento que se descola das demais variáveis de atividade industrial."

A confederação destacou que o faturamento real das empresas apresentou o quinto mês consecutivo de crescimento a despeito da queda da atividade industrial. A instituição também revelou que o nível de 81,4% da capacidade instalada em outubro atingiu o menor patamar desde fevereiro de 2010.

De acordo com Fonseca, a desaceleração da atividade industrial já foi confirmada no terceiro trimestre e a expectativa é a de um movimento parecido nos últimos três meses do ano. "Temos dificuldade neste momento e a estagnação foi confirmada no terceiro trimestre. Esperamos um quadro parecido no quarto trimestre", disse.

Projeções - A CNI não faz projeções para os indicadores apresentados pela Confederação, mas disse esperar que o Produto Interno Bruto (PIB) cresça 3,4% este ano, a indústria deve registrar avanço de 2,2% em 2011 na comparação com o ano passado.

As estimativas para 2012 ainda não foram feitas e mesmo as que foram confirmadas ontem pelos técnicos da CNI devem passar por alterações a partir de hoje, quando o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgar os números detalhados do PIB. "Amanhã (hoje), vamos refazer contas depois dos dados do IBGE", disse o economista da CNI, Marcelo de Ávila.

 

Veículo: Diário do Comércio - MG


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