Demanda interna recua e complica PIB de 2012

Leia em 3min 20s

A estagnação do crescimento da economia brasileira no terceiro trimestre, revelada ontem na divulgação do Produto Interno Bruto (PIB) do terceiro trimestre pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), foi acompanhada de uma queda de 0,2% na demanda doméstica. Foi a primeira vez, desde o auge do impacto da crise financeira mundial na virada de 2008 para 2009, em que houve retração em todos os componentes do consumo interno - famílias, governo e investimento. Para analistas, o resultado do terceiro trimestre confirma 3% como teto para o crescimento do PIB neste ano e torna mais difícil reacelerar o ritmo de crescimento em 2012.

A queda na demanda doméstica foi o dado não esperado dentro do resultado do PIB. Pelo lado da demanda, recuaram o consumo das famílias (menos 0,1%) e do setor público (menos 0,7%), formação bruta de capital fixo (menos 0,2%) e as importações (menos 0,4%), sempre na comparação do terceiro trimestre com o segundo, descontados os efeitos sazonais. Apenas as exportações cresceram, com alta de 1,8% na mesma comparação. Com base no comportamento dos componentes do consumo no PIB, o Departamento Econômico do Bradesco calcula uma série de demanda doméstica total, que apontou a queda trimestral de 0,2% sobre o segundo trimestre, a primeira desde a virada de 2008/2009.

Pelo lado da oferta, a indústria recuou 0,9% (dado esperado), mas sua retração foi acompanhada pelo setor de serviços, que caiu 0,3% em relação ao segundo trimestre, na série com ajuste sazonal. Com exceção da retração registrada no quarto trimestre de 2008 (quando a economia como um todo se retraiu após a quebra do Lehman Brothers em setembro), a última vez em que o setor de serviços registrou queda no PIB foi no início de 2005. A exceção entre os três grandes componentes do PIB foi a alta de 3,2% na agropecuária.

O aumento da incerteza gerada pela crise externa pode explicar parte do resultado ruim da demanda doméstica, dizem economistas ouvidos pelo Valor. A maioria, contudo, aponta a política contracionista adotada a partir do fim de 2010 como principal razão da forte desaceleração do consumo e da oferta de bens e serviços da economia brasileira no terceiro trimestre. Essa é a avaliação da gerente de Contas Nacionais do IBGE, Rebeca Palis. A reversão das medidas - iniciadas com o corte de juros no fim de agosto -, contudo, ainda não está refletida nesse resultado, explicou ela.

"A política econômica fez mais efeito do que esperavam os economistas. Não me parece lógico explicar o comportamento doméstico com o cenário internacional", afirma Carlos Kawall, economista-chefe do Banco J. Safra. Ele explica que o ambiente internacional passou a ficar mais preocupante a partir de agosto, mês em que o Banco Central reverteu o ciclo de aperto monetário e iniciou o afrouxamento dos juros básicos. Desde então, a Selic caiu 1,5 ponto percentual, para 11% ao ano. Aliado ao ajuste da taxa de juros, o governo começou a desmontar as medidas de contenção ao crédito tomadas no fim de 2010 e, na semana passada, reduziu o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para parte da linha branca.

Na avaliação de Fabio Silveira, sócio-diretor da RC Consultores, os estímulos à economia chegaram atrasados e devem ajudar a atividade somente a partir do segundo trimestre de 2012, na melhor das hipóteses. "Houve um excesso de preocupação com relação à inflação e agora mergulharemos num crescimento negativo desnecessário no quarto trimestre por conta disso", diz Silveira. A perspectiva de queda do PIB no quarto trimestre, porém, não é consenso.

As previsões para o PIB do últimos trimestre em relação ao terceiro variam de 0,2% a 0,8%, na série com ajuste. Para 2012, se o governo quiser garantir o crescimento desejado pela presidente Dilma Rousseff - entre 4% e 5% - o PIB precisará se expandir de 1,4% a 1,8% a cada trimestre - e a zona do euro não entrar em recessão.


Veículo: Valor Econômico


Veja também

Investimento cai seguindo a indústria

Desaceleração da demanda leva à primeira queda do indicador desde 2009, quando havia iniciado traje...

Veja mais
Comércio Exterior: Setor deve ter cadastro positivo em 2012

O governo tem estudos avançados para a reforma do marco regulatório do comércio exterior, cujo prin...

Veja mais
Receita da indústria cresce mais que horas de trabalho

O faturamento da indústria cresceu pelo quinto mês consecutivo e, no acumulado deste ano, atingiu um n&iacu...

Veja mais
Estabilidade amplia total de micro e pequenas empresas

O número de proprietários de micro e pequenas empresas no Brasil aumentou em 2,7 milhões de 2000 pa...

Veja mais
Demanda não reduziu volume de estoques

Mesmo com as vendas de fim de ano, as prateleiras do segmento no país continuam cheias. A demanda do varejo do f...

Veja mais
2012 deve ser o ano da seca do crédito

Para analistas, cenário é parecido ao que se seguiu à quebra do Lehman Brothers e que fez com que b...

Veja mais
Encomendas natalinas frustram indústrias

As encomendas de Natal não foram suficientes para acelerar o ritmo das indústrias de calçados e ves...

Veja mais
Crise interrompe ajuste de estoques

De outubro para novembro, fatia de indústrias com produtos estocados além do normal deu um salto no setor ...

Veja mais
Agronegócio e classe C levam interior de São Paulo a liderar consumo no País

Sustentado pela renda do agronegócio da cana-de-açúcar, o interior paulista foi a região que...

Veja mais