Na avaliação de economistas, a sazonalidade e o aumento da demanda interna explicam os avanços de preços destes produtos no Brasil em novembro
Apesar da queda de preços no mercado internacional, os alimentos foram os produtos que mais pesaram no bolso do consumidor brasileiro no mês passado e empurram a inflação oficial do país para cima. Dados divulgados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostraram aceleração do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) para 0,52% em novembro, contra 0,43% em outubro — mês em que o índice havia diminuído.
Metade da inflação do mês passado veio dos alimentos, cujos preços, segundo o IBGE, saltaram de 0,56% para 1,08% no período. Esse movimento vai na contramão do que mostram indicadores globais. A Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) divulgou ontem que o índice de preços globais, que mede mensalmente os custos para uma cesta mundial de cereais, oleaginosas, lácteos, carnes e açúcar, recuou para 215 pontos em novembro (veja tabela ao lado) — 0,46% inferior ao de outubro e 10% abaixo do pico verificado em fevereiro último, quando atingiu 238 pontos.
Indicador divulgado anteontem pelo Banco Central mostrou queda também nos preços das commodities agropecuárias brasileiras que são negociadas no exterior, de 1,46% entre outubro e novembro. O esperado era que essa tendência externa se repetisse aqui. Mas não foi o que aconteceu.
O diretor de Pesquisas e Estudos Econômicos do Bradesco, Octavio de Barros, explica que o que acontece no mercado internacional “tende a se repetir para o consumidor brasileiro”, mas há alguma defasagem entre esses movimentos. “Além disso, há uma longa cadeia entre os preços do campo e o do varejo, por isso as magnitudes são muito diferentes, no Brasil e em outros países”, diz.
“A defasagem entre os preços internacionais e domésticos vem diminuindo, com a maior integração dos mercados. Contudo, a defasagem dos preços no campo para o consumidor não deve sofrer mudança significativa nos próximos anos, seguindo as limitações do processo produtivo que é comum para outros países”, diz Barros.
Economista da Fundação Getulio Vargas (FGV) em São Paulo, Paulo Picchetti acrescenta mais dois fatores que contribuem para esse movimento de alta dos alimentos: sazonalidade e aumento da demanda. “As elevações de preços dos alimentos no último mês no Brasil são predominantemente de caráter sazonal, o que deve continuar nos próximos dois meses”, diz. Ele aponta como exemplo a carne, que ficou 2,63% mais cara no mês passado.
De acordo com a técnica do IPCA, Irene Machado, a carne normalmente sobe no segundo semestre. Neste período do ano o pasto fica mais seco e, portanto, o gado rende menos. Já o aumento da demanda interna foi impulsionado pela melhora na distribuição de renda no país. “As pessoas estão gastando mais com alimentação e comendo mais fora de casa. Isso é resultado do aumento da renda”, avalia a técnica do IBGE.
O coordenador da pesquisa do IPC (Índice de Preços ao Consumidor) da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), Rafael Costa Lima, ressalta o dólar, que subiu nos últimos meses, afetando o preço de produtos industrializados.
As perspectivas, porém, são positivas. Octavio de Barros avalia que os preços de alimentação deverão começar a desacelerar para o consumidor no começo de 2012, dada a defasagem típica desses produtos em relação ao observado no mercado internacional. “Na inflação do atacado, as quedas nos preços começam a ser observadas, o que corrobora para o cenário de menor pressão ao consumidor no início do próximo ano.”
Acima da meta
No ano, o IPCA acumula inflação de 5,97% e, em 12 meses, já está em 6,64% — acima do teto da meta perseguida pelo Banco Central, de 6,5%. Apesar de superar o limite definido pelo governo, mostra desaceleração, já que chegou a bater 7,31% em setembro último. No ano, alimentação não foi o grupo que mais subiu, mas mesmo assim, com alta de 5,97%, foi o que mais influenciou a inflação, por ter peso maior na composição do índice.
Veículo: Brasil Econômico