O aumento das contratações com carteira assinada e os reajustes no 13º salário e no programa Bolsa Família permitirão uma injeção extra na economia brasileira de R$ 15,1 bilhões neste ano, de acordo com cálculo da LCA Consultores, com base em dados do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese). Ao todo, o pagamento do salário extra e o programa social do governo federal somarão um desembolso até o fim do ano de R$ 88,9 bilhões, o que representa um incremento de 20,48% sobre os R$ 73,8 bilhões do ano passado.
De acordo com cálculo do Dieese, neste ano, o pagamento do 13º salário aos trabalhadores do mercado formal, aposentados e pensionistas será de R$ 77,995 bilhões, 21,8% acima do total desembolsado no ano passado, de R$ 64,022 bilhões, o que dá uma diferença de R$ 13,973 bilhões sobre 2007. O cálculo considerou um aumento no total de beneficiários do INSS em 600 mil e de empregados com carteira em 3,8 milhões. O supervisor do Dieese, José Silvestre Prado de Oliveira, acrescentou outros fatores para o incremento, como o ganho real no reajuste do salário mínimo (de 4,7%) e os ganhos reais obtidos nas negociações coletivas.
Já o programa Bolsa Família, conforme projeção da LCA, deve encerrar o ano com incremento de 11,6%, chegando a R$ 10,9 bilhões, o que representa um recurso a mais em relação ao ano passado de R$ 1,13 bilhão. O economista da LCA Fábio Romão observou que parte do pagamento do 13º salário é antecipada ao longo do ano, o que dificulta medir o valor efetivamente recebido entre novembro e dezembro. Por isso a decisão de utilizar o valor desembolsado no ano também para o Bolsa Família.
Para Romão, a injeção de recursos extras pode contribuir para que o desempenho do varejo seja bom no fim do ano, apesar do quadro de crise internacional. Ele observou, no entanto, que o acesso ao crédito está mais difícil e os preços de bens duráveis aumentaram, fatores que reduzem o ímpeto do consumidor. "É provável que o desempenho do comércio não seja tão forte como foi em 2007."
Uma pesquisa divulgada pela Associação Nacional dos Executivos de Finanças Administração e Contabilidade (Anefac) confirma tal expectativa. O levantamento feito com 572 consumidores indicou que 60% dos entrevistados pretendem utilizar o 13º salário para saldar dívidas, ante 58% em 2007. Das despesas, 36% pretendem usar o salário extra para cobrir dívidas de cheque especial e 25%, para pagar débitos do cartão de crédito. Outros 17% pretendem regularizar o nome (SPC, Serasa).
O percentual de entrevistados que pretende usar parte do 13º salário para comprar presentes caiu de 20% para 15%. O índice dos que pretendem poupar e aplicar aumentou 1 ponto percentual, para 11%. O percentual de entrevistados que já recebeu o 13º ou fez empréstimo antecipado do mesmo aumentou 2 pontos percentuais, para 9%. E os índices de pessoas que pretendem usar parte do salário para reformar ou comprar sua residência e poupar mantiveram-se estáveis em 3% e 2%, respectivamente. "O resultado dessa pesquisa confirma a tese de que os trabalhadores já estão se preparando ante o risco de um crescimento menor da economia brasileira em função da crise externa", afirmou.
Veículo: Valor Econômico