A Caixa Econômica Federal anunciou ontem a liberação de R$ 2 bilhões para financiar bens de consumo no varejo. Essa operação soma-se a R$ 4 bilhões liberados recentemente pelo Banco do Brasil e a outros R$ 4 bilhões via Nossa Caixa às montadoras, totalizando R$ 10 bilhões de crédito liberados para o consumo. Segundo o vice-presidente da área de distribuição da Caixa Econômica, Carlos Borges, ao contrário das outras instituições financeiras, a liberação do crédito não foi viabilizada por conta da crise financeira. "Já havíamos planejado este financiamento, que chegou em um bom momento para aquecer o mercado", afirma. Com essa liberação, a Caixa pretende aumentar em 20% as vendas no varejo, principalmente nas vésperas de fim de ano.
O valor já está disponível pela Caixa somente aos quatro primeiros contratos assinados ontem, durante o anúncio do financiamento, que receberão uma dotação inicial de R$ 100 milhões para aplicação nos primeiros 12 meses. Até o final do ano, a instituição financeira pretende firmar mais parcerias. Os contratos foram negociados com as redes varejistas Baú Crediário, de São Paulo; América Móveis, de Santa Catarina; Tradição Móveis, de Pernambuco e Certel, do Rio Grande do Sul, abrangendo cerca de 150 lojas ao redor do País.
Segundo Borges, as redes terão de 60 a 180 meses para pagar o empréstimo, dependendo do tipo de parceria. Os juros para os varejistas também vão depender do modelo operacional de cada rede. "Garanto que vamos praticar as melhores taxas de juros do mercado, como já fazemos em diversas operações, inclusive em cheque especial."
Cada loja vai contar com correspondentes da Caixa para o acesso ao financiamento de bens de consumo, como eletrodomésticos, eletrônicos, móveis, TV e vídeo, além de material para construção. Os consumidores poderão financiar o valor de até R$ 10 mil com prazo de 24 meses. Segundo Borges, os juros para os consumidores serão fixados de acordo com o mercado de cada varejista. A Caixa já conta com 18 mil correspondentes no País, distribuídos em lojas e casas lotéricas. Segundo Fábio Lenza, vice-presidente, até 2010, a idéia é abrir mais 5 mil pontos de correspondentes. "Este financiamento é o primeiro passo para mais parcerias com o varejo", afirma. Para ele, o varejista regional é o foco de atuação da instituição financeira.
De acordo com Marcos Santos, diretor presidente da Tradição Móveis, o juro mais atrativo da Caixa vai facilitar o acesso aos consumidores de baixa renda do Nordeste, área de atuação da rede. "Estávamos com dificuldade de conseguir crédito, pois, com a crise, as financeiras pararam de operar", aponta. O financiamento também vai aumentar a competitividade da empresa para o Natal. A Certel, por exemplo, também trabalha com correspondente transacional, que possibilita o pagamento de contas como de água e luz nas lojas. Segundo Milton Huve, diretor presidente da companhia, muitos clientes ficam sabendo do financiamento de até R$ 10 mil da Caixa quando vão pagar suas contas no local. "Isso nos possibilita um aumento em torno de 20% nas vendas."
Fábio Lenza frisa, porém, que o cenário ainda está bastante turbulento. "É arriscado fazer uma projeção para o próximo ano." Para ele, a Caixa ainda tem espaço para apostar no País com a liberação de crédito. "Se não for suficiente, alocaremos mais recursos para o varejo, principal fonte de aquecimento da economia."
Segundo Lenza, a Caixa consegue juros mais atrativos devido à sua boa capacidade de funding por Certificados de Depósito Bancário (CDBs) e por poupança líquida. De janeiro até hoje, a captação da poupança líquida soma entre R$ 11 e R$ 12 bilhões - o saldo da poupança está em R$ 90 bilhões. Além disso, só em outubro, a captação por CDB somou R$ 950 milhões. A taxa média do CDB para atacado e varejo equivale a 97% do Certificado de Depósito Interfinanceiro (CDI). "Conseguimos uma taxa boa", diz Lenza. Segundo ele, a carteira de habitação em CDB já soma R$ 20,5 bilhões, a estimativa é fechar 2008 com R$ 22 bilhões. Em 12 meses, o saldo da carteira de crédito comercial da Caixa totalizou R$ 13 bilhões. Para pessoa física, com a liberação de ontem, a carteira totaliza R$ 15 bilhões.
Habitação
A Caixa também anunciou ontem a ampliação do limite de empréstimos para financiamento de construção e reforma de imóveis, de R$ 7 mil para R$ 25 mil. A nova regra para a linha de crédito, conhecida como Construcard/FGTS, utiliza recursos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS). A medida é destinada principalmente às famílias de menor renda, e limitada a R$ 1,9 mil por mês. As taxas de juros que podem ser cobradas nesses empréstimos variam de 6% a 8,16% ao ano. Quem tem renda acima de R$ 1,9 mil tem a opção da linha de crédito com recursos próprios do banco público e das cadernetas de poupança. Neste caso, o valor mínimo de empréstimo é de R$ 1 mil e as taxas de juros podem chegar a 13,5% ao ano.
Veículo: DCI