EUA voltam a ser, em janeiro, principal mercado para o Brasil

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Os Estados Unidos, graças à compra de petróleo, superaram a China em janeiro e voltaram a ser o principal mercado para o Brasil. As exportações brasileiras ao mercado americano aumentaram 37%, devido, principalmente, às variações acima de 100% nos preços de commodities vendidas aos americanos, mas também por vendas maiores em manufaturados, como aviões e motores, e de semimanufaturados de ferro e aço. Preocupa o governo, porém, a forte queda (mais de 25%) nas vendas à União Europeia, que, se considerada como bloco, ainda absorve a maior parte das vendas brasileiras.

Em janeiro, os valores recordes de exportação e importação levaram também a um recorde negativo, o maior déficit comercial mensal da série estatística iniciada em 1992: US$ 1,29 bilhão. O país teve déficits também em janeiro de 2009 e 2010, mas um superávit pequeno, de US$ 398 milhões no ano passado. O governo e especialistas da área concordam, porém, que resultados ruins não são surpresa para o primeiro mês do ano e que é cedo para avaliar a tendência do comércio exterior em 2012. Mesmo assim, no fim do primeiro trimestre o governo deverá anunciar novas medidas de estímulo às exportações para impedir o aumento do déficit na balança comercial.
 
Entre as medidas que serão adotadas constam: melhora das condições de financiamento para as exportações, medidas de estímulo para a inserção das pequenas e médias empresas no comércio internacional, benefícios para empresas aumentarem o grau de inovação nos produtos destinados ao exterior, além de medidas para promover os produtos brasileiros no exterior. Segundo a secretária de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Tatiana Prazeres, o governo brasileiro tende a adotar ações que explorem outros mercados de consumo que não a União Europeia. "Financiamento é um componente importante, haverá medidas de simplificação de operações de exportação e para ampliar a participação de empresas de menor porte", disse a secretária.

As exportações atingiram em janeiro o total de US$ 16,142 bilhões. A despeito de o resultado ser recorde para meses de janeiro, os embarques ficaram 27% menores em relação às vendas externas de US$ 22,127 bilhões de dezembro. Na comparação com janeiro de 2011 houve acréscimo de 1,3%. As importações em janeiro ficaram em US$ 17,433 bilhões, com recuo de 4,8% frente a dezembro e alta de 12,3% sobre igual mês de 2011.

"Nossa expectativa para o ano é de um saldo positivo e de que exportemos pelo menos o que exportamos em 2011", comentou Tatiana, após admitir, porém, que "2012 vai ser um ano difícil para o comércio exterior brasileiro". As "incertezas do mercado internacional" impedem o governo de fixar uma meta para as exportações nesse primeiro semestre, disse.

A Associação de Comércio Exterior Brasileiro (AEB) mantém sua previsão de um déficit comercial de US$ 3 bilhões neste ano, segundo seu vice-presidente-executivo, José Augusto de Castro. Ele nota, porém, uma recuperação nos preços das commodities em janeiro, que poderá ter efeito positivo sobre as contas, se não for um fenômeno passageiro.

Para o diretor-executivo da Fundação de Estudos de Comércio Exterior (Funcex), Ricardo Markwald, os valores "expressivos" e "relativamente equilibrados" tanto das exportações quanto das importações tornam difícil fazer previsões especialmente em ambiente de incerteza como agora. Qualquer pequena diferença nas hipóteses pode levar a uma projeção de déficit ou de superávit, comentou.

Um dos principais responsáveis pelo mau desempenho da balança comercial em janeiro foi a queda de 31% nas vendas de minério de ferro, em parte provocada pela interrupção nos embarques devido às fortes chuvas do início do mês. Para Tatiana, as chuvas tiveram impacto pequeno. O principal motivo foi a retração dos mercados internacionais - que, como nota Castro, da AEB, levou a uma forte queda nos preços do minério.

A queda das vendas de minério de ferro pesaram no mau resultado com a União Europeia, que absorvia 24% do total das exportações brasileiras em janeiro de 2011 e passou a menos de 18% no mês passado. Mais de um quinto da queda nas vendas aos europeus é atribuída à redução nas exportações do minério.

As vendas de petróleo do Brasil aos Estados Unidos, 35% do total exportado para país, aumentaram 115% em valor e 68% em volume, mais de 20% acima do resultado no mesmo mês de 2011. As vendas de produtos semimanufaturados de ferro e aço (8% do total) aumentaram 160% em valor, as de aviões (4% do total) cresceram 136%, para US$ 4,6 bilhões.

Entre as importações, em janeiro chama a atenção o crescimento de 16% dos bens de consumo, especialmente as compras de bens duráveis, que aumentaram 21,3%. Apesar das restrições às importações de automóveis, como o aumento do IPI, as compras de carros no exterior aumentaram 9% em janeiro comparadas com janeiro do ano passado.


Veículo: Valor Econômico


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