Nova classe média vira alvo preferencial

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O impulso do salário mínimo também está sendo interpretado como fôlego extra à produção por setores pouco tradicionais da indústria, mas que apostam na mudança dos padrões de consumo das classes C e D. Segundo estudo do instituto Data Popular, dos R$ 63,98 bilhões a serem injetados na economia neste ano com o novo mínimo, R$ 48,3 bilhões irão parar nas mãos da nova classe média, ou 75,5% do total.

A Nonus, empresa de São Paulo que emprega 90 pessoas e fabrica leitores de códigos de barras para o pagamento de contas em casa via internet - o chamado "homebank" - está de olho no potencial de consumo dessa parcela da população, que está se "bancarizando" e acessando mais a web.

Fundada em 1985, desde então a Nonus produz leitoras para o atendimento em bancos, mas, a partir de 2004 passou a desenvolver o homebank quando percebeu que as próprias instituições financeiras estavam investindo na automação de seus clientes, conta Marcos Canola, diretor-comercial. Hoje, o "leitor doméstico", que custa cerca de R$ 100 no varejo, já representa 20% do faturamento da empresa. Em 2011, foram vendidas 50 mil unidades do produto.

"No começo, como imaginamos, os principais interessados eram as pessoas da classe A e B, que já tinham computador, mas isso começou a se expandir para qualquer pessoa que tivesse interesse em tecnologia. A nova classe média quer ficar antenada", diz Canola, que prevê expansão de 20% da produção do homebank em 2012 e de 20% a 30% nas vendas.

O Brasil encerrou 2011 com 58 milhões de acessos aos serviços de conexão à internet, o que representou um crescimento de quase 70% em relação a 2010. Ao todo, 23,3 milhões de novos acessos foram ativados no ano passado, de acordo com levantamento da Associação Brasileira de Telecomunicações (Telebrasil).

O setor de cosméticos também está animado com o aumento do mínimo. Mesmo marcas voltadas ao consumo da classe AB esperam vender mais e, consequentemente, produzir mais em 2012. É o caso da Aspa Cosméticos, marca cujo carro-chefe são sprays para cabelo, produzidos pela Aerojet Química Industrial. "É um aumento de R$ 77. Não acredito que dê para comprar eletrodomésticos com esse dinheiro", diz o sócio-diretor da Aerojet, Demetre Giokaris, para quem a renda extra deve ser canalizada para o consumo de bens não duráveis.

Sediada próxima a Petrópolis (RJ), a fábrica da Aerojet emprega cerca de 250 pessoas e, além de produzir hairsprays em geral, é a única no país no segmento de "maquiagem para pernas", um spray em aerosol que substitui o uso da meia-calça no verão. Os produtos são vendidos em todos os Estados e exportados para seis países. "As classes mais baixas estão começando agora a ter acesso aos nosso produtos", afirma Giokaris, que espera crescimento da produção em torno de 16% em 2012, taxa igual a de 2011. "O setor de cosméticos vai crescer mais do que a média", acredita.

A Rishon, fabricante de cosméticos especializada em produtos para tratamento capilar do Recife (PE), vai ampliar sua fábrica este ano e espera resultados próximos ao de 2011, quando o faturamento cresceu 50% e a produção, 35%. Segundo a empresária Marcelle Sultanum, o aumento do mínimo, apesar de onerar seus custos com mão de obra, "beneficia muito" seu negócio, já que, na região Nordeste, grande parte da população recebe entre um e dois salários mínimos. "As mulheres das classes C e D ficam com mais poder aquisitivo para comprar e consomem nossos produtos, mesmo com renda bem mais baixa", afirma.

Com mercado já consolidado no Nordeste e no Estado do Pará, a Rishon vende para todo o país por meio de sua loja virtual, chegou no ano passado ao varejo especializado em beleza de São Paulo e planeja começar a exportar parte de sua produção. "Nosso público são mulheres muito interessadas em cabelo, ou seja, qualquer brasileira, seja de alta ou baixa renda", resume Marcelle.

Esse é o mesmo pensamento de Alexandre de Oliveira, diretor da Koloss Cosméticos, pequena empresa de Jaú, no interior de São Paulo, que produz maquiagens a preços acessíveis vendidas em perfumarias e redes de farmácias em todo o país. Os batons, principais produtos da Koloss, custam cerca de R$ 4 no varejo, diz Oliveira, que está adquirindo novas máquinas e planeja expandir a produção em 40% este ano, após um crescimento de cerca de 30% em 2011. "O mínimo certamente tem um papel nessa projeção, ainda que não principal", comenta o empresário.



Veículo: Valor Econômico


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