Comprar a prazo ficou muito mais caro em dezembro. A taxa de juros média para aquisição de bens, como roupas e eletrodomésticos, foi de 65,9% ao ano no último mês de 2011. O número calculado pelo Banco Central (BC) é dez pontos porcentuais maior que a taxa de 55,5% de novembro. É a maior diferença entre os meses em 11 anos. Apesar da alta, a expectativa é de que os juros ao consumidor baixem nos próximos meses puxados pela queda da taxa básica da economia, a Selic, hoje em 10,5% ao ano.
Para o presidente do conselho do Programa de Administração de Varejo (Provar/Ibevar), Claudio Felisoni, dois fatores podem ter influenciado a alta dos juros. O primeiro deles é a inadimplência maior. A taxa dos pagamentos para aquisição de bens com atraso superior a 90 dias foi de 13,9% em dezembro. Um ano atrás, o índice estava em 8,8%.
O segundo fator é a menor disponibilidade do orçamento familiar para novas dívidas. “A inadimplência subiu ao longo do ano e as famílias já tinham boa parte da renda comprometida. Diante desse cenário, o varejo elevou a taxa de juros por causa do risco maior”, diz Felisoni.
Apesar dos juros estarem mais altos, o consumidor pouco percebeu. Nos cálculos do coordenador do curso de ciências contábeis da Faculdade Santa Marcelina, Reginaldo Gonçalves, a taxa anual registrada em dezembro equivale a 4,31% ao mês. Já o índice anual de novembro equivale a 3,75% ao mês. “O consumidor acaba não sentindo essa alta. Ele não faz o cálculo, mas essa diferença na taxa mensal terá um grande peso no valor final. É preciso pesquisar os preços e as melhores condições de pagamento porque algumas lojas cobram o mesmo preço à vista e a prazo”, diz Gonçalves.
O professor do Núcleo de Varejo da ESPM e diretor da consultoria Brandworks, Luiz Alberto Marinho, afirma que o brasileiro, em geral, avalia apenas se o valor da prestação cabe em seu orçamento. “A elevação dos juros pouco influencia a predisposição do consumidor para a compra. Em vez de parcelar em dez vezes, a compra é financiada em 12 prestações. Assim, a parcela fica mais acessível.”
A boa notícia é que a tendência é de baixa dos juros nos próximos meses. “O governo vem tomando uma série de medidas para proporcionar um ambiente de queda”, avalia o vice-presidente da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), Miguel Ribeiro de Oliveira. Um exemplo é a queda da Selic. Atualmente a taxa está em 10,5% ao ano. A previsão do mercado é que o juro básico encerre 2012 em 9,5%.
Quem não puder esperar uma queda nas taxas, a dica é aproveitar as liquidações de verão. Segundo Felisoni, as vendas de Natal ficara abaixo das expectativas. E com um estoque maior, as promoções começaram mais cedo e devem se prolongar. O alerta é tomar cuidado em fazer novas dívidas justo no período de grandes despesas, como o IPTU, IPVA e material escolar.
Veículo: Jornal da Tarde - SP