IBGE e analistas dizem que ponto crítico já passou e que produção deve ser retomada gradualmente a partir de meados do ano
A produção industrial deve iniciar recuperação gradual em 2012, após o fraco crescimento de 0,3% em 2011. O resultado ficou bem abaixo da expansão de 10,5% em 2010. Para analistas, a indústria já deixou para trás seu pior momento, mas a manutenção de fatores que vêm afetando negativamente o setor - como o real valorizado e a crise na Europa - continuarão dificultando uma retomada expressiva.
A expectativa é que o setor seja puxado pela demanda doméstica a partir do segundo semestre, impulsionada pelos efeitos da redução dos juros e de medidas governamentais de estímulo ao consumo. Apesar de ter apresentado sinais positivos nos últimos meses de 2011, com alta de 0,9% em dezembro, a indústria nacional fechou o ano com produção 3,5% abaixo do nível de março daquele ano, o mais elevado da série histórica do IBGE.
Após um crescimento no primeiro trimestre, houve recuo consecutivo no ritmo industrial, culminando com queda de 1,4% no último trimestre do ano. O segmento de bens de consumo foi o destaque negativo (-0,7%) do ano, derrubado pelo baque de 7,8% da produção de automóveis, o pior desde 1999 (-10,7%).
O economista-chefe do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), Rogério César de Souza, destaca a alta de 3,3% da produção de bens de capital em 2011 como um sinal positivo para os investimentos este ano, por estar disseminado entre equipamentos de transporte, para construção e para a indústria.
A maior preocupação do Iedi é quanto à evolução da produção de bens intermediários, que cresceu pífio 0,3% em 2011.
"Os intermediários são um termômetro porque representam as compras da indústria e têm o maior peso no setor. E continuarão sendo afetados pelo aumento das importações e perda de competitividade", disse. O mesmo vale para setores tradicionais e intensivos em mão de obra, como têxtil, vestuário e calçados, que, combalidos pela competição chinesa, amargaram quedas acentuadas no ano passado.
Ponto mínimo. Para o consultor do Ibre/FGV, Silvio Sales, o ponto mínimo da atividade industrial ficou em outubro do ano passado. Ele destaca que nas sondagens de expectativa do empresariado é possível perceber melhora na avaliação de estoques, que operavam em nível elevado ao fim do ano passado: "A expectativa é que, ajustados os estoques, em um ambiente de taxas de juros em declínio, com inflação não pressionando demais as decisões de consumo, a indústria entre em trajetória de crescimento moderado, suave", afirmou.
"O maior volume de importados, junto com as medidas adotadas no fim de 2010, elevação de taxas de juros e nível de estoques elevado na maior parte dos setores acabam sendo explicações para o desempenho moderado da atividade industrial em 2011", analisou André Macedo, coordenador da pesquisa do IBGE. Consultorias ouvidas pelo Estado projetam para 2012 elevação entre 2% e 2,5%.
As medidas de estímulo à indústria deverão contribuir para o aumento da produção a partir do meio do ano, mas têm efeito limitado. "A redução de IPI, por exemplo, deve ter efeito menor que na crise de 2009, já que os bens duráveis têm ciclo de vida maior", disse Thovan Tucakov, economista da LCA Consultores. Na análise dos economistas, as propostas da União, como o plano Brasil Maior, são pontuais e atacam setores específicos, em lugar de problemas estruturais como a pesada carga tributária.
Veículo: O Estado de S.Paulo