Pressão sobre preços cede e analistas preveem recuo do IPCA

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Com a menor pressão de cigarros e medicamentos e a redução nos preços dos carros após o corte do IPI, os economistas preveem que o Índice Nacional de Preços Ao Consumidor Amplo (IPCA) se desacelere de 0,64% em abril para 0,43% em maio, segundo a média das previsões de 11 instituições consultadas pelo Valor Data. As estimativas variam de 0,40% a 0,47%. Se confirmado esse resultado, em 12 meses a inflação continuará se desacelerando, suavemente, de 5,10% em abril para 5,06% em maio.

Apesar dessa expectativa de leve perda de fôlego da inflação no acumulado em 12 meses, as projeções para o IPCA em 2012 continuam situadas acima do centro da meta perseguida pelo Banco Central, de 4,5%. De acordo com a média das projeções coletadas pelo Valor Data, o índice deve encerrar o ano com alta de 5,14%, com intervalo entre 4,80% e 5,26%.

Para os economistas consultados pelo Valor, a redução no ritmo de reajustes entre abril e maio será motivada por questões pontuais. Em abril, os cigarros subiram 15,04%, em reação ao aumento da alíquota de IPI, se destacando como a principal contribuição individual para o IPCA daquele mês, de 0,12 ponto percentual. O produto, calcula a LCA Consultores, ainda deve apresentar alta em maio, de 4,7%, porém em intensidade bastante inferior à vista no mês anterior. Dinâmica parecida deverá ser vista em produtos farmacêuticos.

Embora modesto, o impacto da redução do IPI sobre automóveis já deve ser sentido pelo índice oficial de inflação em maio. A LCA estima queda de 0,5% tanto em veículos novos quanto usados. "A princípio, esperávamos redução de 1% nos preços em maio, mas como percebemos que mesmo antes do corte do IPI muitas concessionárias já estavam vendendo abaixo da tabela, devido à fraca demanda, revisamos a projeção", afirma o economista Fabio Romão.

Thiago Curado, economista da Tendências Consultoria, nota que ficará mais evidente o fato de que questões pontuais contribuíram para a desaceleração do IPCA pelo comportamento dos núcleos, que expurgam variações atípicas e devem apresentar estabilidade em relação ao IPCA-15 de maio. Na mesma comparação, o índice geral deve avançar menos, pois a alta foi de 0,51% na leitura anterior.

Além dos carros, o etanol também deve ter ajudado a aliviar a inflação no mês passado, segundo Daniel Lima, da Rosenberg & Associados. Sua expectativa é que o combustível, que subiu 0,81% em abril, tenha entrado em deflação em maio, com o começo da nova safra de cana-de-açúcar, e que os preços permaneçam em queda até agosto.

Também a inflação de serviços deve ter comportamento mais favorável em maio, em função de reajustes mais brandos de empregado doméstico e queda forte das passagens aéreas, afirma Romão, da LCA. Pelos seus cálculos, a alta foi de 0,30%, ritmo bem mais modesto que o visto em maio do ano passado (0,54%). "Não é apenas a mão de obra que compõe a inflação de serviços. Matérias-primas e aluguéis são importantes e têm se desacelerado", destaca.

Curado, da Tendências, projeta que, no acumulado em 12 meses, a inflação de serviços passará de 8,56% em abril para 8,24% em maio, no cálculo que exclui passagens aéreas, por causa da volatilidade. "No ano, no entanto, o avanço deve ser de 8,1%. Embora a atividade esteja mais fraca, os determinantes da inflação de serviços continuam robustos, com ganhos elevados de renda e baixo desemprego", afirma Curado.

Esse é um dos pontos, na opinião do economista da Tendências, que explica a resiliência projetada para o IPCA em 2012. Sergio Vale, economista da MB Associados, avalia que a desvalorização recente do real também contribui para a resistência das expectativas, mesmo diante de estimativas de baixo crescimento neste ano. No curto prazo, no entanto, diz, o risco inflacionário é baixo, principalmente por causa do agravamento da crise internacional, o que pode possibilitar que a taxa básica de juros, hoje em 8,5% ao ano, alcance "facilmente", 7% ano.



Veículo: Valor Econômico


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