Queda no consumo contém aumentos nos preços dos serviços, que subiram 8,76% nos 12 meses até maio
Índice está perto da meta oficial do governo, de 4,5%, o que abre caminho para novos cortes na taxa de juros
A forte freada da economia, a moderação do consumo e a crise externa estão ajudando a conter os aumentos de preços para o consumidor, o que abre caminho para o Banco Central promover novos cortes nos juros nos próximos meses.
O IPCA, índice oficial de inflação, subiu 0,36% em maio. Ficou abaixo das previsões do mercado e foi inferior à taxa de abril (0,64%). A taxa acumulada nos 12 meses até maio atingiu 4,99%, a mais baixa desde setembro de 2010, segundo o IBGE.
Apontado pelos dados do PIB do primeiro trimestre (alta de apenas 0,2%), o menor ritmo de atividade da economia e o receio de ampliar gastos em tempos de inadimplência crescente rebateram nos preços dos serviços, até então vilões da inflação.
Com o consumo menos aquecido e uma folga menor no orçamento, comprometido para saldar dívidas, os preços dos serviços (de refeições fora de casa a empregados domésticos) subiram 0,21% em abril, menor nível desde outubro de 2009. Caíram os preços de serviços como passagens aéreas, pacotes de viagens, hotéis e outros.
Para Eulina Nunes dos Santos, coordenadora do IBGE, a alta menor dos serviços pode estar ligada à menor disposição das famílias em consumir serviços que, em muitos casos, não são essenciais.
Mas reflete também, diz ela, uma "saturação dos preços", que já haviam subido muito (8,76% em 12 meses até maio), o que tornou muitos serviços caros e afastou uma parcela de consumidores.
Elton Teles, analista do Itaú-Unibanco, afirma que a freada dos serviços é "consistente com o menor ritmo de atividade da economia" e com as previsões de uma retomada mais lenta do que a prevista pelo governo.
PROJEÇÕES
Diante desse ambiente de menor crescimento, economistas já revisam suas projeções de inflação para menos de 5%, perto do centro da meta oficial do governo, 4,5%.
A consultoria LCA projeta 4,8%, um índice próximo ao centro da meta do governo federal.
Para a consultoria Rosenberg & Associados, um fator adicional para segurar os preços é a redução de IPI de veículos, item de grande peso na inflação, uma das medidas adotadas pelo governo para tentar reanimar a economia. A crise na Europa, dizem os analistas, também ajuda a segurar a inflação no Brasil.
Os preços dos alimentos subiram bastante (0,73%) por causa da quebra de safra de importante produtos agrícolas, como soja, arroz e feijão. "A inflação só não foi mais baixa em abril por causa dos alimentos, prejudicados pela estiagem em muitas regiões produtoras", diz Eulina.
Veículo: Folha de S.Paulo