Preços sobem forte no atacado e indicam mais pressões para o IPCA

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O impacto das quebras de safra nos Estados Unidos sobre os preços de grãos e o reajuste de combustíveis nas refinarias levaram o Índice Geral de Preços - Mercado (IGP-M) a avançar de 0,66% para 1,34% entre junho e julho, maior taxa mensal registrada desde novembro de 2010 e acima dos 1,2% projetados, em média, por nove instituições consultadas pelo Valor Data. Analistas acreditam que a escalada das commodities deve ter atingido seu pico no atacado, mas ainda pressionará os preços de alimentos ao consumidor nos próximos meses, já que a alta nos insumos ainda não foi totalmente incorporada nos produtos derivados.

Esse movimento, aliado ao aumento na previsões do IPCA do ano - de 4, 92% para 4,98% segundo o boletim Focus, reduz o espaço para cortes adicionais na taxa básicas de juros, além do 0,50 ponto básico esperado para a próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), dizem analistas.

A maior pressão sobre o IGP-M veio dos preços agropecuários, que subiram de 0,58% para 3,91% na passagem de junho para julho. A forte alta foi puxada principalmente pela soja e pelo milho, que deixou queda de 3,9% para aumento de 6,7%. O primeiro grão, ao avançar 14,89% na medição atual, marcou sua maior alta mensal desde outubro de 2002 segundo a Fundação Getulio Vargas (FGV), que calcula os IGPs. De janeiro a julho, a commodity já subiu 62,6%, taxa acumulada mais elevada para o período desde 1995, primeiro ano comparável na série histórica do IGP-M após a entrada em vigor do Plano Real.

O aumento da gasolina e do diesel ao produtor também influenciou a aceleração do indicador, com contribuição para a alta de 1,05% dos produtos industriais, frente taxa de 0,79% observada em junho. No período, o subgrupo combustíveis saiu de retração de 0,28% para taxa de 5,14%.

O coordenador de análises econômicas da FGV, Salomão Quadros, observou que a inflação de 1,81% medida pelo Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPA) em julho, frente ao aumento de 0,74% no mês anterior, ficou concentrada em cinco produtos, dos quais três são alimentos e os outros dois, gasolina e diesel. Apenas o complexo soja - que, além do grão, engloba o farelo e o óleo - foi responsável por 60% da aceleração do IPA. Já o milho representou 0,15 p.p. da taxa do atacado, mesmo impacto adicional do tomate, que, devido a problemas climáticos, subiu 93,1% em julho.

Como as safras já foram colhidas e não devem haver novas pressões sobre preços de commodities este ano, Quadros considera que o efeito das altas de grãos no atacado pode ter atingido seu limite em julho, o que indica uma tendência de perda de fôlego dos IGPs a partir de agosto. No varejo, no entanto, um repasse mais significativo de preços pode estar por vir nos próximos meses. "A nova onda de reajustes [das matérias-primas] mal chegou nos produtos derivados", disse.

A ração animal, ressaltou o coordenador, aumentou de 1,15% para 3,33% entre junho e julho no IPA, o que pode pressionar os preços das carnes, enquanto a alta de 1,29% para 1,91% do trigo, de acordo com Quadros, já chegou ao pão francês. O item subiu de 0,42% para 1,95% dentro do Índice de Preços ao Consumidor (IPC) que compõe o IGP-M. Já o óleo de soja refinado, que deixou recuo de 0,09% no mês passado para elevação de 1,44% na medição atual, na visão do economista da FGV, "está no começo da subida."

Para Thiago Curado, da Tendências Consultoria, a trajetória de ascensão das commodities, ainda que sem valorizações adicionais, deve manter os preços de alimentos em patamar elevado até o fim do ano. A inflação de 2012, tanto no atacado como no varejo diz, já está comprometida por esse efeito porque uma reversão de preços deve ocorrer apenas em 2013, quando começarem a ser colhidas as próximas safras. Ele explica que o repasse da escalada de grãos ao consumidor deve se dar até setembro, período em que começa a entressafra da carne bovina.

Após a divulgação de julho, Curado revisou de 5,9% para 7% sua projeção para a alta acumulada do IGP-M em 2012. A estimativa de 5% para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que, segundo o analista, "já esteve na iminência de ser revisada para baixo", foi mantida.

Em relatório, a equipe econômica do Goldman Sachs afirma que a aceleração dos IGPs deve chamar a atenção do BC e limitar o espaço para cortes maiores na taxa básica de juros, a Selic, a níveis abaixo de 7,50% a 7,25%. "A inflação no atacado foi pressionada por preços mais altos dos combustíveis e pela disparada das cotações de produtos agrícolas. Esperamos apenas um repasse moderado para o consumidor por causa da demanda mais fraca. No entanto, com respeito à calibragem da política monetária, a aceleração dos IGPs deve capturar a atenção do BC e limitar o espaço para cortes agressivos".


Veículo: Valor Econômico


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