Estoques chegam a patamares recordes com desaceleração

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Os balanços do segundo trimestre, os piores dos últimos anos, já ficaram para trás, junto com a desvalorização cambial responsável por boa parte dos números ruins.

No entanto, as empresas ainda não conseguiram se livrar de uma herança deixada pelo desaquecimento do consumo: os níveis de estoques, em reais ajustados pela inflação, são os maiores desde o fim de 2008, no pico da crise financeira que paralisou a economia mundial.

Um levantamento com dados de 200 companhias de capital aberto feito pelo Valor com base em dados da consultoria Economática mostra que os estoques chegaram a R$ 141,58 bilhões no fim de junho, 8% maior que o volume de doze meses antes.

Em termos absolutos, o valor de junho é 14% maior que o de dezembro de 2008, em números deflacionados. No entanto, numa comparação com o total do ativo circulante (onde fica a conta dos estoques no balanço patrimonial), os estoques deste ano representavam 23,2% do ativo, enquanto em 2008 essa relação era maior, de 25%. Ainda assim, a relação deste ano é a segunda maior da série.

O mercado aguardava uma melhora econômica para o começo do ano, o que obviamente não aconteceu, explica o estrategista da Santander Corretora Leonardo Milane.

"A melhora não veio, os indicadores pioraram e isso ficou refletido até em preços das ações."

A pesquisa Sondagem Industrial, feita mensalmente pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), tem confirmado ao longo dos últimos meses a tendência de alta dos estoques.

"A utilização da capacidade instalada continua abaixo do usual para o período, os estoques cresceram e o processo de escoamento dos estoques indesejados segue de maneira lenta", afirma a confederação em sua pesquisa do mês de julho.

Flávio Castelo Branco, gerente executivo de política econômica da CNI, explicou em conversa com o Valor que esse cenário é consequência da queda do consumo interno.

A desaceleração aconteceu com a exaustão de alguns estímulos do governo, o endividamento da população que esteve alto e os juros que só começaram a cair em agosto do ano passado - e que demoram a surtir resultados na indústria.

"O nível de estoques deve ter chegado no seu ápice na virada do primeiro para o segundo semestre, mas ainda não temos nenhum dado que confirme a superação do problema", comenta Castelo Branco. O especialista acrescenta que é preciso esperar mais um pouco para ver se o processo se completou.

Muitas empresas apostaram no recuperação da demanda neste ano e se deram mal. A fabricante de implementos rodoviários Randon fechou junho com o primeiro prejuízo trimestral desde 2002. Seus estoques chegaram a patamares recordes.

Com consequência, as empresa teve que buscar mais recursos e aumentar o endividamento para suprir, como explicou no material de divulgação dos resultados, "o aumento da necessidade de capital de giro causado pela rubrica de estoques, elevados por conta da postergação de entregas" por conta da menor demanda dos clientes.




Veículo: Valor Econômico


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