Varejo diverge sobre projeções de vendas para o 3º trimestre

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A recuperação sentida no varejo em julho - que registrou alta de 6% sobre junho e de 12,3 % sobre igual mês de 2011 - não foi suficiente para animar de maneira uniforme o comércio movido a crédito. As vendas de julho e das primeiras semanas de agosto não foram suficientes para devolver para todo o setor a expectativa de que a retomada do crédito permitirá elevar as vendas no terceiro trimestre. Alguns já sentiram recuperação agora, mas muitos adiaram para o fim de ano a projeção de vendas maiores.

Nas 1.100 lojas do grupo Máquina de Vendas, holding que agrupa as marcas Insinuante, Ricardo Eletro, City Lar, Salfer e Eletro Shopping, as vendas cresceram cerca de 6% entre junho e julho, de acordo com o presidente da empresa, Ricardo Nunes. O resultado, segundo ele, é normal para esta época do ano. "Já não temos problemas para liberar crédito, como aconteceu no primeiro semestre. Agora, a tendência é vender mais."

Em agosto, as vendas da companhia devem crescer cerca de 10% sobre julho, prevê Nunes. "O consumidor está ficando mais aliviado, porque em meados do ano costumam acabar as prestações feitas com as compras de Natal. Agora, a tendência é comprar mais", avalia o empresário, que projeta faturamento de R$ 9 bilhões para o grupo em 2012, incluindo os resultados da Salfer, adquirida em abril deste ano. Em 2011, a Máquina de Vendas faturou R$ 7,2 bilhões.

César Siqueira Anderson, diretor de vendas e marketing da Lojas Colombo, não se mostra tão otimista. As vendas da rede ficaram estagnadas entre junho e julho, mesmo com o aumento de 3% nas operações à vista. "Movimento nas lojas existe, o problema é que o consumidor está muito endividado e isso dificulta a liberação de financiamento", diz Anderson.

Em julho, de acordo com a Serasa Experian, a procura por crédito saltou 8% sobre junho, puxada pelos consumidores com renda mensal de até R$ 2 mil, que buscaram empréstimos principalmente para comprar móveis, eletrodomésticos e produtos de informática. O movimento nas lojas de móveis e eletrodomésticos, pelo levantamento, subiu 2% em julho, na comparação com junho, já com ajustes sazonais.

Na Colombo, a expectativa é que vendas aumentem no fim de ano. "Mesmo endividadas, as pessoas encontram uma forma de comprar os presentes de Natal. O aumento, entretanto, deverá ser menor que nos anos anteriores", diz Anderson. Para 2012, a rede projeta faturamento de R$ 1,5 bilhão, próximo ao R$ 1,4 bilhão verificado em 2011.

Para Roberto Fulcherberguer, vice-presidente comercial da Via Varejo, holding que reúne Casas Bahia e Ponto Frio, o consumidor está mais cauteloso, mas continua disposto a comprar. Essa visão é apoiada pelo Índice de Confiança do Consumidor, apurado pelo Fundação Getulio Vargas (FGV), que há três meses segue trajetória decrescente, tendo baixado de 128,7 pontos em abril para 121,6 pontos em julho. O indicador, porém, mantém-se bem acima da média histórica, de 111,9 pontos.

Fulcherberguer diz que as vendas da Via Varejo mantêm o ritmo do primeiro semestre de 2012, quando a expansão foi de 7%, na comparação com igual período do ano anterior. "Não estamos com dificuldade para liberar crédito, porque nossa curva de inadimplência está estável faz algum tempo", afirma o executivo, acrescentando que 15% das vendas são feitas por carnê. A rede projeta crescimento de 6% no ano, com faturamento de R$ 25,7 bilhões.

Nos próximos meses, avalia Paulo Neves, da LCA Consultores, a tendência é que os segmentos do comércio mais sensíveis a crédito superem o desempenho dos ramos ligados à renda, em resposta à expansão do crédito, à diminuição das taxas de juros e à queda na inadimplência. "Além disso, os dados do Ministério do Trabalho apontam um processo de desaceleração no mercado de trabalho. Tanto o emprego como a renda devem crescer menos."

A Manlec, varejista com 45 lojas de eletrodomésticos, eletroeletrônicos e móveis no Rio Grande do Sul, não viu essa recuperação no início do segundo semestre. As vendas de julho e agosto de 6% a 7% menores do que em igual período de 2011, em valores nominais, confirmando tendência de desaceleração verificada no segundo trimestre, diz o vice-presidente da rede, Atílio Manzoli Júnior.

Conforme o empresário, mesmo com a retração sentida entre abril e junho, o primeiro semestre acabou empatado com o mesmo período de 2011, graças ao bom desempenho nos três primeiros meses. Com o ritmo mais fraco dos negócios no início do segundo semestre, ele prevê que o crescimento do ano ficará abaixo dos 5% a 6% projetados originalmente. Para setembro e outubro, o empresário espera estabilização das vendas. A retomada, avalia, virá a partir de meados de novembro.

Com 55 lojas em Pernambuco, a rede de eletroeletrônicos Ponto de Promoção não percebeu sinal de recuperação no segundo semestre. Seu proprietário, Fernando Mendonça, diz que as vendas em julho e na primeira quinzena de agosto permaneceram no ritmo observado nos meses anteriores, frustrando a expectativa de aquecimento na segunda metade do ano.

"As indústrias e as lojas estão cheias de produto, o que é bom para o consumidor, pois o preço caiu. Mesmo assim, está devagar, especialmente na linha branca e linha marrom", afirmou o empresário, que vê no endividamento da população e nos juros altos a explicação para a estagnação nas vendas.


Veículo: Valor Econômico


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