Nona queda consecutiva completa um ano do mais agressivo ciclo de cortes desde o Plano Real; taxa fica em 7,5%
Copom fala em 'máxima parcimônia' e indica que, se ainda não acabou, a trajetória de baixa está perto do fim
Com a nona queda consecutiva dos juros do Banco Central, completou um ano o mais agressivo e controverso ciclo de cortes promovido desde o Plano Real.
Ontem, a Selic, que serve de base para o rendimento das aplicações financeiras e o custo dos empréstimos bancários, foi reduzida de 8% para 7,5% ao ano, novo menor patamar da história da taxa.
Há 12 meses, o BC atordoava investidores e analistas ao interromper uma trajetória de alta e derrubar o juro de 12,5% para 12% anuais, mesmo com a inflação acima da meta oficial.
O comunicado do Comitê de Política Monetária indicou que, se não acabou, a trajetória de queda está perto do fim: "Se o cenário prospectivo vier a comportar um ajuste adicional nas condições monetárias, esse movimento deverá ser conduzido com máxima parcimônia".
Antes da decisão, analistas de mercado apostavam em uma última redução da Selic, para 7,25%.
Independentemente de sua continuidade, a estratégia de estímulo monetário já rendeu trunfos para a equipe econômica da presidente Dilma Rousseff.
O governo pode apresentar como obra sua os juros reais -descontada a inflação esperada- de 1,98% ao ano, que, embora ainda altos para os padrões internacionais, são de longe os menores do país em três décadas.
E o BC, cuja autonomia passou a inspirar desconfiança a partir do ano passado, pode afirmar que acertou ao prever uma forte freada da economia associada ao agravamento da crise externa.
Já os resultados concretos de tais feitos e acertos são, até este momento, bem menos animadores.
A reação do consumo e dos investimentos tem sido mais lenta e modesta que o projetado. A aposta central do mercado hoje é de um crescimento econômico de apenas 1,73% neste ano, pouco menos da metade dos 3,5% esperados pelo BC em março.
Entre os quatro principais ciclos de queda de juros desde a adoção do regime de metas de inflação, em 1999, nenhum demorou tanto a produzir aceleração da atividade econômica. Na crise de 2009, foram seis meses de queda consecutiva -e sinais de retomada surgiram no segundo semestre.
Este é também o primeiro ciclo de afrouxamento monetário feito enquanto a inflação projetada se mantém acima da meta de 4,5%, sem tendência clara de baixa.
A política inédita demonstra a agressividade do BC, mas encurta o fôlego da queda dos juros. Para os especialistas, o risco de escalada dos preços deverá forçar um novo aperto monetário a partir de abril de 2013.
Veículo: Folha de S.Paulo