Na retomada, comércio cresce muito acima da indústria

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Mesmo com as diversas medidas do governo para impulsionar a indústria, o descasamento entre a produção industrial e as vendas no varejo persiste e, mais que isso, vem aumentando nos últimos meses. De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o descompasso entre os dois setores atingiu, em meados desse ano, o maior patamar da década. Em julho, tomando como referência janeiro de 2006 tanto para o varejo como para a indústria, as vendas do comércio foram 81% maiores, enquanto a produção industrial foi apenas 10% maior - uma diferença de 71 pontos. No mesmo mês do ano passado, essa diferença era de 50 pontos e, em julho de 2010, de 39 pontos.

Nos sete primeiros meses deste ano, enquanto as vendas do varejo ampliado (que incluem automóveis e materiais de construção) cresceram 7,5% frente ao mesmo período de 2011, a produção industrial minguou, ao encolher 3,7% na mesma base de comparação. Nem mesmo os setores beneficiados pela redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) escaparam ao descompasso.

De janeiro a julho, as vendas de automóveis avançaram 5% em relação ao mesmo período do ano passado, mas a fabricação de veículos caiu 10% no período. A comercialização de móveis e eletrodomésticos, por sua vez, aumentou 13,9% na mesma base de comparação, enquanto a produção de mobiliário cresceu apenas 1,54% e a fabricação de linha marrom e de outros eletrodomésticos, excluindo linha branca, caíram 0,3% e 7,5%, respectivamente. Apenas a produção de fogões, geladeiras e máquinas de lavar apresentou desempenho próximo ao das vendas, ao crescer 11,7%.

Essa divergência entre a produção e comercialização no Brasil, de acordo com Luiz Goes, sócio da GS&MD - Gouvêa de Souza, ainda deve se estender por pelo menos mais dois anos. "Para que essa diferença diminua, além de ser necessário um aprimoramento na produtividade e na competividade das empresas, o cenário mundial precisa melhorar." Ele explica que a indústria brasileira continua sendo muito penalizada pela queda nas exportações, diante da fraca atividade econômica mundial, e alguns setores ainda enfrentam a concorrência dos importados.

As vendas de materiais de construção acumularam alta de 8,7% nos sete primeiros meses de 2012, frente ao mesmo período de 2011, embora a produção de insumos típicos da construção civil tenha aumentado apenas 2,39% neste intervalo. O crescimento nas vendas de tecidos, vestuário e calçados foi modesta neste período (1,8%), mas tal comportamento adquire relevância quando comparado à produção desses produtos, que encolheu de janeiro a julho deste ano. Na comparação com o mesmo período de 2011, a fabricação de vestuário e acessórios diminuiu 12,04% e a de calçados e artigos de couro baixou 4,41%.

Em julho, as vendas do comércio restrito (que exclui automóveis e materiais de construção) superaram as expectativas dos economistas, ao avançarem 1,4% sobre junho, feitos os ajustes sazonais. A média das previsões de dez departamentos econômicos e consultorias ouvidos pelo Valor Data indicava alta de 1% no período.

No varejo ampliado, entretanto, o desempenho negativo do setor de veículos levou o indicador à queda de 1,5% nas mesmas bases de comparação. O recuo de 8,9% nas vendas de automóveis entre junho e julho, feitos os ajustes sazonais, porém, não foi visto como um alerta pelos economistas.

Na avaliação de Mariana Hauer, do banco ABC Brasil, o número divulgado ontem pelo IBGE mostrou apenas um ajuste nas vendas, após o salto de 23,9% em junho, primeiro mês cheio de vigência da redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para o segmento. "Mesmo com essa queda em julho, no ano, as vendas de veículos permanecem positivas, o que garante certo conforto ao setor." Em agosto, segundo ela, as vendas de carros devem voltar a subir.

Outro setor beneficiado pelo corte no IPI, o de móveis e eletrodomésticos, também demonstrou perda de fôlego entre junho e julho, com alta de 0,7% em julho, bem abaixo dos 5,2% de maio. Esse arrefecimento nas vendas, na interpretação do gerente da Coordenação de Serviços e Comércio do IBGE, Reinaldo Pereira, foi provocado por um "movimento de compensação", que, segundo ele, "é natural", já que tanto veículos quanto móveis e eletrodomésticos cresceram muito após a redução do IPI.

Pelas contas de Paulo Neves, da LCA Consultores, as vendas de veículos entre junho e agosto, os três primeiros meses de vigência do IPI reduzido, subiram 30% se comparadas aos três meses anteriores.



Veículo: Valor Econômico


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