Brasil deve registrar o pior resultado dos Brics

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Com PIB revisado para 1,57% em 2012, país tem a menor taxa do bloco.



A falta de infraestrutura que permita o crescimento econômico mais acelerado tem deixado o Brasil na pior posição entre os Brics, grupo de países que conta ainda com China, Rússia, Índia e África do Sul. A projeção de expansão do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro, revisada na pesquisa Focus do Banco Central (BC) divulgada ontem, está em apenas 1,57%, a menor dentre as cinco nações emergentes.

A projeção de crescimento para o PIB da África do Sul é a segunda menor, com 2,6%, mas ainda é mais vigorosa que a brasileira, conforme avaliação do Fundo Monetário Internacional (FMI). A Rússia deverá crescer cerca de 3,8% e a Índia em torno de 6,6%. A China, mesmo com a revisão para baixo, causada pelo mau momento econômico vivido por grandes importadores de produtos chineses, ainda aguarda elevação do PIB em proporções animadoras. Acredita-se que o país asiático tenha potencial para crescer cerca de 8% neste ano frente ao anterior. Antes, as previsões davam conta de uma expansão de 9,2%.

Para o economista e professor do Departamento de Economia da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas) Pedro Paulo Pettersen, o que impede que o Brasil cresça na mesma velocidade em que os demais emergentes é a infraestrutura deficitária, que deixa os custos da produção nacional mais elevados. "Nossas estradas, portos e aeroportos impõem um limite no nosso crescimento econômico", afirma.

Os programas governamentais, como o Programa de Aceleração do Crescimento com enfoque em infraestrutura, sinalizam o início de mudanças que podem alterar essa realidade nos próximos anos, na visão de Pettersen. Por essa razão, as estimativas de crescimento do PIB em 2013 são mais otimistas. No Boletim Focus divulgado ontem, por exemplo, ela foi mantida em 4%.

O presidente da Câmara de Comércio e Indústria Brasil-China, Charles Tang, explica que o crescimento da China é justificado pela política econômica adotada no país. "A prioridade chinesa é a prosperidade a qualquer custo, mesmo se houver impacto ambiental e desigualdades sociais.  uma política divorciada das ideologias", afirma.


Nacionalismo - Uma das ideologias, que segundo Tang exerceriam influência sobre a política de investimentos brasileira, é o "excesso de nacionalismo". A preocupação do governo em privilegiar o capital nacional é visto por ele como um entrave ao crescimento. "Na China não há inibição de investimento estrangeiro. Porque lá acredita-se na soberania das leis locais para impedir que os estrangeiros tomem conta do país, o que não acontece aqui no Brasil", afirma. Custo Brasil e atraso da legislação trabalhista são outras justificativas dadas por Tang para explicar o desempenho do Brasil abaixo do alcançado pela China.

A Índia, que deverá ter um PIB três vezes maior do que o Brasil, tem como um dos maiores diferenciais a abertura para investimentos em infraestrutura. Isso ocorre com o tratamento diferenciado nas áreas que mais necessitam de investimentos. Nesses pontos, a burocracia para a iniciativa privada realizar obras de melhorias estruturais foi anulada. "Essa foi uma forma extremamente inteligente para garantir o crescimento local mesmo em época de desaceleração da economia", afirma o presidente da Câmara de Comércio Índia-Brasil, Leonardo Ananda Gomes.

Outro diferencial da Índia é a maior diversificação da economia e dos parceiros comerciais. As atividades que se destacam são os setores farmacêutico, de tecnologia da informação e siderúrgico. Além disso, Gomes explica que a Índia tem energia quase dez vezes mais barata que o Brasil. A carga tributária elevada, acrescenta ele, ainda torna os produtos brasileiros menos competitivos.

Se a economia nacional desacelera, pior ainda para a mineira, que tende a seguir o mesmo caminho, mas em maiores proporções, conforme avaliação do coordenador da pós-graduação em economia do Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Frederico Jayme Júnior.

Uma pesquisa realizada pelo Cedeplar, em parceria com o Instituto de Pesquisas Econômicas, Administrativas e Contábeis de Minas Gerais (Ipead-UFMG), aponta a possibilidade de redução da participação do Estado no PIB nacional. Na década de 70, a fatia era de 8,4%; em 2008 passou a ser de 9,5% e neste ano manteve-se em 9,5%. Porém daqui a 10 anos, ao invés de aumentar, vai cair para 9,4%. e em 2030, para 9,3%.


Veículo: Diário do Comércio - MG


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