IPCA de setembro será o maior em 5 meses, dizem analistas

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A alta dos preços dos grãos no mercado internacional causada pela seca no Meio-Oeste americano chegou com mais força ao varejo em setembro, avaliam os analistas. Combinado a outras pressões esperadas em vestuário, habitação e transportes, esse efeito deve fazer com que a variação do IPCA seja a mais alta desde abril, quando o índice avançou 0,64%. De acordo com 11 consultorias e departamentos econômicos de instituições financeiras consultados pelo Valor Data, o IPCA deve subir 0,56% em setembro, com intervalo entre as estimativas de 0,53% a 0,59%. O resultado será divulgado hoje pelo IBGE.

Para o economista Thiago Curado, da Tendências Consultoria, a inflação de alimentos se acelerou em setembro e sua expectativa é que o grupo tenha avançado, nesse período, 1,17%. Em agosto, os alimentos subiram 0,88%, respondendo por metade da alta de 0,41% no IPCA. Com a aceleração esperada para o mês passado, Curado acredita que os alimentos levaram o IPCA a subir 0,54%, superando também o resultado de setembro de 2011, quando o índice teve alta de 0,53%.

O economista argumenta que o repasse mais significativo do choque de oferta de grãos, que influenciou os preços no atacado nos últimos meses, foi feito ao varejo em setembro. As carnes e as aves, que têm peso relevante na composição do índice, segundo ele, devem apresentar uma forte aceleração, devido ao encarecimento do custo de produção, já que os animais são alimentados por ração à base de soja e milho.

Além disso, Curado percebe uma alta generalizada em industrializados, ainda em decorrência do aumento dos grãos, e também destaca reajustes sazonais, como no caso do arroz, que entrou em período de entressafra.

Fabio Romão, economista da LCA Consultores, avalia que além dos itens indiretamente afetados pela alta dos preços dos grãos, há ainda aumentos importantes esperados para outros alimentos relevantes, como feijão, batata e açúcar. O preço do feijão, por exemplo, que teve deflação de 7% em agosto, agora deve mostrar estabilidade. Por isso, a projeção de Romão é que o grupo alimentação passe de alta de 0,88% em agosto para 1,36% nesta leitura. A projeção da LCA é de inflação de 0,59% em setembro, topo das estimativas coletadas pelo Valor Data.

Priscila Godoy, economista da Rosenberg & Associados, que projeta alta de 0,53% do IPCA em setembro, afirma, no entanto, que o avanço mais forte esperado para este mês é decorrente de inflação mais disseminada. "Temos pressão de alimentos, com carnes e derivados, que mais do que compensam a queda dos itens in natura. Mas também vemos altas em vestuário e transportes, por exemplo", diz ela.

Curado, da Tendências, faz avaliação semelhante. Ele observa que fatores que ajudavam a aliviar o IPCA em agosto não se repetirão em setembro. Entre eles, a deflação em energia elétrica, decorrente da revisão tarifária em São Paulo e em Curitiba. Sem esse efeito, a expectativa é de aceleração no grupo habitação, com a alta de 0,22% em agosto passando a 0,52% em setembro.

Romão da LCA, afirma que o grupo transportes, por exemplo, não deve mostrar forte aceleração, passando de uma alta de 0,06% para avanço de 0,12% na passagem mensal. Ainda assim, diz Romão, é uma sinalização importante "de que as contribuições desse grupo ao longo do ano vão deixar de existir", principalmente após o fim da isenção de Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para automóveis, esperado para outubro. Em setembro, o carro novo deve ter alta de 0,2%, com recomposição gradual de preços estimada para os próximos meses, em função do fim do incentivo e do aumento da demanda.

Comportamento semelhante é aguardado para o grupo despesas pessoais, que em agosto contou com a ajuda dos descontos pós-férias em excursões. Depois de ficarem 7,09% mais baratas em agosto, as excursões devem sofrer uma recomposição de preços, diz Curado, impulsionando a aceleração do grupo, que subiria de 0,42% em agosto para 0,65% em setembro.

A partir de outubro, Curado espera um alívio nos alimentos, com as altas sendo menos intensas. Isso, segundo ele, permitirá ao IPCA desacelerar levemente, devendo manter-se na faixa de 0,50% até o fim do ano. A projeção da Tendências é que o índice encerre o ano com avanço de 5,4%, em linha com as estimativas dos economistas consultados pelo Valor Data, mas acima dos 5,2% que espera o Banco Central.



Veículo: Valor Econômico


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