Alimento puxa nova alta da inflação

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Índice oficial medido pelo IBGE foi de 0,57% em setembro, influenciado pelos preços de diversos itens básicos, como carnes e frangos



A inflação oficial acelerou para 0,57% em setembro puxada, mais uma vez, pelo encarecimento dos alimentos. Os aumentos de preços, que começaram por itens agrícolas atingidos pela seca ou pela redução de área plantada, foram mais disseminados desta vez, informou ontem o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

"A elevação do IPCA se deve, principalmente, aos produtos alimentícios, em função da menor oferta de itens básicos na alimentação das famílias. A alta atingiu grande parte dos produtos", disse Eulina Nunes dos Santos, coordenadora de Índices de Preços do IBGE.

Em setembro, o IPCA acumulado em 12 meses afastou-se um pouco mais do centro da meta estipulada pelo governo, ao atingir 5,28%. Apesar da inflação em alta, aumentaram as apostas no mercado futuro de um novo corte de 0,25 ponto porcentual na taxa básica de juros, para 7,25% ao ano, na reunião do Comitê de Política Monetária da próxima semana.

"Os números estão dentro do que o mercado acha que é o objetivo do Banco Central", justificou Luis Otávio Leal, economista-chefe do banco ABC Brasil. No Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), os alimentos e bebidas subiram 1,26% em setembro.

O grupo já acumula alta de 9,51% em 12 meses e pode continuar a pressionar o IPCA até o fim do ano, segundo analistas. "O grande vilão nesse fim de ano será o complexo carnes. É ele que vai continuar pressionando a inflação. O fim do ano é entressafra de bovinos. O aumento da carne acaba puxando também os preços de frangos e suínos, que são produtos substitutos", previu Leal.

O aumento recente nos preços de grãos como a soja, o milho e o trigo, por causa da redução na oferta causada por problemas climáticos, encareceu a ração animal. Como resultado, frangos, suínos e bovinos ficaram mais caros. Mas a expectativa é de uma descompressão gradual nos preços das commodities agrícolas no mercado internacional para os próximos meses, o que já aparece no atacado.

"Os alimentos devem subir até o início de 2013, mas não devem acelerar nem preocupar", avaliou Carlos Thadeu de Freitas Filho, economista sênior da Franklin Templeton Investimentos Brasil.

No IPCA de setembro, as carnes subiram 2,27%, o maior impacto sobre a inflação do mês. Entretanto, também pesaram mais no bolso do consumidor o arroz, pão francês, batata inglesa, cebola, farinha de mandioca, alho e cerveja.

Embora os alimentos tenham sido destaque na inflação oficial, houve ainda aumento nas despesas das famílias com habitação, graças ao encarecimento da energia elétrica, água e esgoto, aluguel, condomínio e gás de botijão.

Entre os produtos não alimentícios, o principal aumento foi verificado nas passagens aéreas, que passaram de uma queda de 4,55% em agosto para uma alta de 4,99% em setembro.

"As passagens aéreas têm um preço diferenciado. As empresas oferecem tarifas a valores mais altos ou baixos em função da expectativa de faturamento. Se você não tem feriado nenhum, como em agosto, a tendência é de tarifas mais baixas, explicou Eulina. Ela lembrou que no mês passado teve o feriado da Independência, no dia 7 de setembro. "Então, a tendência era de que aumentasse um pouco".

Preocupação. Na avaliação do coordenador do Centro de Macroeconomia Aplicada da Escola de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV-SP), Emerson Marçal, a inflação começa a preocupar. A expectativa é que o índice encerre o ano ao redor de 5,5%.

"Dizer que a inflação está fora de controle é muito forte, mas ela subiu um degrau. Tem de prestar atenção para ver o que vai acontecer", declarou Marçal. "A atividade econômica está retomando, então, se o IPCA chegar a 6%, o governo terá de tomar alguma medida para corrigir o rumo".



Veículo: O Estado de S.Paulo


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