A relação comercial do Brasil com a China pode ir muito além das vendas de commodities. Segundo especialistas presentes no seminário Mercado Foco China, promovido pela Agência Brasileira de Promoção das Exportações e Investimentos (Apex-Brasil), o empresário nacional deve segmentar seus negócios, investir em produtos com bom valor agregado e adicionar serviços às vendas.
O diretor de Negócios da Apex-Brasil, Rogério Bellini, disse que "nós estamos orientando os empresários brasileiros para trabalharem de uma forma mais segmentada, com produtos que tenham design. Estamos orientando os empresários dos setores de máquinas e equipamentos a agregarem serviços, e quando se agrega serviços, principalmente para nós países da América Latina, é muito mais fácil fazer essa iniciativa de dar essa complementação de serviços, a gente acaba tendo um diferencial muito maior que o competidor asiático, ele acaba sendo melhor em preço, mas pior no pós-venda".
Uma das vantagens do mercado chinês, segundo Bellini, é que sua classe média alta é formada por uma população de 300 milhões de pessoas. Segundo Juarez Leal, coordenador de Estratégia de Mercado da Apex-Brasil que também participou do seminário, promovido em conjunto com a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) e da Confederação Nacional da Indústria (CNI), o consumidor chinês dá valor a produtos ocidentais importados que não sejam produzidos no país.
A empresa de calçados Paquetá é um dos casos de sucesso de inserção nacional no varejo chinês. Seu gerente de Exportação, Fabiano Pizzato, chama a atenção para o fato de que o consumidor chinês tem o conceito de que "produto bom é produto caro", e complementa que um mesmo é item vendido no país asiático com no mínimo o dobro do preço de venda nos Estados Unidos.
A China no futuro
Para o ex-cônsul-geral em Xangai, embaixador Marcos Caramuru de Paiva, nos próximos dez anos a China deve sofrer uma mudança e passar de mercado exportador para importador e de atrativo para Investimentos Estrangeiros Diretos (IED), a fornecedor e portanto será uma nação mais seletiva à entrada desse tipo de aporte.
Atualmente, o IED chinês está em US$ 60 bilhões por ano. Segundo Caramuru, os chineses irão investir fora pois é mais difícil ganhar dinheiro localmente, já que a concorrência é muito grande e os custos do país tendem a se ampliar. O Brasil, na visão do especialista, pode sim ser um local de destino de IED chinês no futuro "acho que, primeiramente, eles [os chineses] terão outros alvos. Irão ficar fascinados pelas oportunidades da Europa e dos Estados Unidos mas eu acho que o Brasil é importante por uma razão simples, economias grandes operam com economias grandes, a China é a segunda maior do mundo, o Brasil é a sexta e vai caminhar para quarta e a China para a primeira. Não tem saída é uma questão de tempo".
Internamente, o embaixador chama a atenção para o fato de que os países asiáticos podem caminhar para uma integração que chegue a um patamar sustentável e o restante do mundo fique menos importante. "Aqueles que pensem em investir, devem se mover rapidamente", completou o embaixador Caramuru.
Dicas
Os especialistas pontuaram algumas medidas importantes de serem tomadas por empresários brasileiros que pretendem fazer negócios com a China. A primeira delas é em relação aos contratos. Para o embaixador, o chinês dá pouco valor aos contratos e mais valor às relações pessoais.
O advogado José Ricardo dos Santos Luis Jr, do escritório Duarte Garcia, Caselli Guimarães e Terra Advogados, complementa que para a cultura de negócios chinesa "o contrato é apenas uma das etapas para que o negócio seja efetivado". Segundo ele, é preciso ter paciência, e respeito pelo timing [tempo] chinês.
O último conselho do advogado é nunca fazer uma negociação pela Internet, pois os e-mails podem ser haqueados e o pagamento desvinculado. "Em média recebemos um cliente a cada vinte dias com esse problema", disse.
Veículo: DCI