Analistas preveem índice menor no atacado e maior para consumidores

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As projeções do mercado para a inflação no atacado ficaram mais otimistas, movimento que não evitou a terceira revisão para cima consecutiva nas estimativas para os preços ao consumidor. Segundo o boletim Focus, no qual o Banco Central consulta cerca de cem analistas, a mediana para o Índice Geral de Preços - Disponibilidade Interna (IGP-DI) recuou de 5,39% para 5,20%, enquanto as previsões para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) avançaram consideravelmente, de 5,53% para 5,65%. No caso do IGP-M, a revisão para baixo foi menor, de 5,35% para 5,31%.

Para economistas, a descompressão dos IGPs no curto prazo, puxada principalmente por uma correção para baixo nos preços agrícolas, explica o corte nas previsões para alta desses indicadores no ano. Divulgada ontem pela Fundação Getulio Vargas (FGV), a segunda prévia do IGP-M desacelerou de 0,69% para 0,34%, com retração de 0,11% nos produtos agropecuários.

Essa trajetória, apesar de colocar viés mais favorável para o comportamento dos alimentos ao longo de 2012, não seria suficiente para influenciar as expectativas do mercado para o IPCA porque outras pressões estão no radar dos analistas, com destaque para a questão energética.

Recentemente, a Tendências Consultoria ajustou de 5,6% para 5,8% sua estimativa para o aumento do IPCA no ano, já que, devido ao acionamento das térmicas, a queda nos preços de energia elétrica será menor que o antecipado.

"Acreditamos que a redução média das contas de luz será de 20% em fevereiro, mas como haverá a incorporação de custos de termelétricas nos processos de revisões periódicas das empresas, projetamos queda de 6,75% dos preços de energia no ano, ante 12,9% anteriormente", explica a economista Alessandra Ribeiro.

Segundo ela, os analistas também podem ter acrescentado o impacto das térmicas em suas previsões para o IPCA, movimento que deve continuar a puxar a mediana do Focus para cima nas próximas semanas.

Além da questão energética, ela afirma que outros fatores de curto prazo também estão afetando as projeções. Em dezembro, a inflação oficial subiu 0,79%, acima do esperado pelo mercado, o que, em sua avaliação, traz uma inércia inflacionária um pouco maior para janeiro. No Focus, a mediana de estimativas para o IPCA deste mês subiu de 0,78% para 0,81%. Há quatro semanas, ela estava em 0,73%. "Há uma forte pressão de alimentos e despesas pessoais", diz.

Myriã Blast, economista do Bradesco, observa que os núcleos de inflação - medidas que tentam expurgar ou diminuir o impacto de itens voláteis sobre o IPCA - ainda estão muito pressionados, o que explica a manutenção das estimativas do mercado em nível elevado, mas o acionamento das termelétricas para suprir a demanda por energia seria o principal motivo por trás da piora adicional nas previsões.

Depois da recente queda no nível dos reservatórios, o Bradesco passou a trabalhar com deflação mais modesta nos preços de energia em 2012, de 10%, mas Myriã manteve em 5,3% sua expectativa para a alta do IPCA, porque prevê uma ajuda maior de outras partes da inflação. Esse alívio, de acordo com ela, viria principalmente dos alimentos, que no ano passado sofreram o repasse do choque de commodities e, agora, devem ceder caso as projeções de safras mais robustas se concretizem.

 

Veículo: Valor Ecoômico


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