Com seus 8,5 milhões de quilômetros quadrados, o Brasil é um território rico em diversidade, inclusive econômica. As regiões brasileiras reagiram de forma distinta às intempéries externas, à desaceleração da atividade doméstica e aos incentivos lançados pelo governo durante todo o ano de 2012 para reaquecer o consumo, a produção e os investimentos. Se em 2012 a indústria afetou negativamente as regiões, em 2013 ela atuará no sentido contrário.
Enquanto os Estados mais ligados à produção industrial, como São Paulo e Amazonas, sofreram com a queda das exportações e a concorrência dos importados no ano passado, a região Centro-Oeste, fortalecida pelo agronegócio, avançou mais.
Em 2013, o agronegócio deve continuar gerando bons retornos ao Centro-Oeste, mas a maior promessa, segundo a Tendências Consultoria, vem do norte do país, com a expectativa de retomada da indústria, principalmente a extrativa. A consultoria estima crescimento de 3,2% no Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro neste ano - bastante acima do 0,8% projetado para 2012 -, com a região Norte avançando 4,5% (um salto frente ao 1,1% previsto em 2012) e o Centro-Oeste se expandindo 3,7%, ligeiramente acima dos 3,3% esperados no ano passado.
Enquanto o Sudeste também se recupera com ajuda da indústria (alta projetada de 3,1% para 2013), a região Sul, assim como em 2012, deve ficar na lanterna do crescimento neste ano, avançando 2,2% (a previsão para 2012 é de aumento de apenas 0,2%). O baixo dinamismo de setores de grande peso na região (alimentício, químico, têxtil e couro), avalia a consultoria, prejudicará o desempenho do Sul, apesar da expectativa de recuperação dos agronegócios, que em 2012 foram afetados pela seca.
Nas regiões Norte e Nordeste do país, a despeito do comportamento tímido da indústria no ano passado, as vendas do comércio cresceram a um ritmo de dois dígitos, impulsionadas pelo aumento de renda. O mercado de trabalho também rendeu bons frutos no Sul, onde de taxa de desemprego é a menor do país. Entre as seis regiões metropolitanas analisadas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Porto Alegre é a que apresentou entre janeiro e outubro a menor taxa média de desocupação, de 4,1%.
O ano de 2012 não foi bom para a região Sudeste, que gera mais da metade do PIB brasileiro - o que ajuda a entender a modesta expansão de 0,5% projetada para a região para o ano passado. Os quatro Estados que compõem a região viram suas indústrias encolher. A maior perda foi a do Rio de Janeiro, de 6,2% nos dez primeiros meses de 2012, em relação ao mesmo período de 2011. "A indústria automobilística derrubou a produção industrial do Rio e também de outros Estados, apesar dos esforços do governo", diz Cristina Reis, economista do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi).
Mesmo com a redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), a fabricação de veículos automotores diminuiu 35,8% de janeiro a outubro no Rio e 16,1% em São Paulo. Apenas em Minas Gerais a produção de automóveis cresceu - 3,5% no período.
O vigor do comércio compensou parcialmente a fragilidade da indústria no Sudeste. Em São Paulo, as vendas do varejo restrito (que exclui automóveis e materiais de construção) aumentaram 9,9% de janeiro a outubro deste ano, em relação ao mesmo período de 2011, superando o crescimento médio nacional, de 8,9%. No Espírito Santo, o desempenho foi ainda melhor, com o setor se expandindo 10,1%.
O destaque do consumo ficou com as regiões Norte e Nordeste, onde grande parte dos Estados apresentou crescimento de dois dígitos nas vendas do varejo restrito no ano passado. Em Roraima, o aumento chegou a 28,6% nos dez primeiros meses de 2012 em relação ao mesmo período do ano anterior, enquanto no Acre, Amapá, Tocantins, Maranhão, Pernambuco e Bahia a alta ultrapassou 10% nas mesmas bases de comparação.
"O Norte e o Nordeste são muito influenciados por políticas sociais e pelo reajuste do salário mínimo - e ambos tiveram forte aumento em 2012", observa Fabio Bentes, economista da Confederação Nacional do Comércio de Bens, serviços e Turismo (CNC).
Em 2012, o salário mínimo teve reajuste de 14% - 7,5% acima da inflação -, aumento que influenciou não só os programas de transferência de renda, mas também os benefícios do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). "A economia de muitas cidades do Norte e Nordeste do país depende de pensões e aposentadorias. Por isso é possível compreender porque mesmo com o emprego crescendo pouco nessas regiões o consumo avançou muito no ano", diz o professor da PUC-SP, Antonio Corrêa de Lacerda.
A massa de renda do Bolsa Família, de acordo com projeções da Tendências, cresceu 20,9% no Norte e 13,6% no Nordeste no ano passado. No mesmo período, a massa de renda oriunda de benefícios do INSS subiu 10,3% no Norte e 9,6% no Nordeste. Com isso, o Norte despontou como líder no ranking de crescimento da massa de renda total (que inclui trabalho, INSS e Bolsa Família) em 2012, ao contabilizar aumento esperado de 6,7%. No Nordeste, a alta projetada é de 5,6%, também superando a média do país, de 4,8% no período.
No que diz respeito a emprego, a melhor situação é vista no outro extremo do país. A região Sul conta com a menor taxa de desocupação do Brasil, segundo o IBGE. Entre janeiro e outubro, a taxa média de desemprego foi de 4,1% da População Economicamente Ativa (PEA), bastante abaixo da média nacional de 5,7% no período. Os fatores demográficos que contribuem para o arrefecimento do desemprego no Brasil, diz Lacerda, estão mais presentes no Sul.
É nessa região, segundo ele, que o crescimento populacional é menor, influenciando a expansão da PEA. "Quanto mais desenvolvida é a região, maior a desaceleração demográfica. Isso porque há menos pessoas entrando no mercado de trabalho e esse ingresso ocorre tardiamente, já que o tempo de estudo é maior", argumenta Lacerda. Com menos gente procurando trabalho, o desemprego cai.
Em 2012, o Sul sofreu com a quebra da safra de grãos, que prejudicou o desempenho do setor agropecuário. A região também apresentou resultado negativo no setor industrial, com a contração de mais de 10% na produção de veículos nos três Estados que formam o Sul - Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.
Dentre as cinco regiões brasileiras, o Sul, segundo estimativas da Tendências, é a única com perspectiva negativa para os próximos cinco anos. A especialização em setores pouco dinâmicos e a migração de atividades para o Centro-Oeste, avalia a consultoria, devem prejudicar o desenvolvimento da região. A Tendências projeta crescimento médio de 3,6% para o Brasil entre 2013 e 2017, sendo que a expansão média esperada para o Sul é de apenas 2,7% no período.
Com grandes projetos em mineração, papel e celulose, veículos, petroquímica, energia eólica, hidráulica e gás, ferrovias e estaleiros, além do amplo potencial consumidor, o Norte e o Nordeste se destacam como as regiões com maior potencial de crescimento nos próximos cinco anos (média de 4,6% de expansão para ambas). No Centro-Oeste, a força do agronegócio promete manter o crescimento da região acima da média nacional, chegando a 3,9%. Já no Sudeste, o crescimento médio projetado de 3,3% se baseia nos grandes projetos de mineração, petróleo, siderurgia e veículos, além da expectativa gerada pela Copa e Olimpíada.
Veículo: Valor Econômico