Considerado um dos mais experientes conhecedores do mercado de câmbio, o economista Sidnei Moura Nehme, acha que o BC poderá ter sucesso na tentativa de apreciar o real, mas por pouco tempo.
Nehme, diretor-executivo da NGO Corretora de Câmbio, acredita que a moeda brasileira voltará a se desvalorizar, a reboque da saída de investidores do país.
Para ele, sem intervenção, o dólar tenderia a caminhar para R$ 2,30 no fim do ano. Mas sua aposta é que a autoridade monetária lançará mão de reservas cambiais e conseguirá manter a cotação entre R$ 2,10 e R$ 2,15.
Pressões inflacionárias
O governo vinha trabalhando com um cenário em que a inflação convergiria para o centro da meta. Mas está sendo surpreendido. A pressão inflacionária está muito forte, principalmente pelos alimentos. E o governo tem poucos instrumentos para conter isso.
Aumentar a taxa de juros é impraticável, já que ele tem um compromisso quase moral de não elevá-los neste ano. Tomar medidas macroprudenciais iria frontalmente contra a grande esperança do governo que é conquistar algum crescimento pelo consumo. Então, sobrou o câmbio.
O BC fez a rolagem [de "swap" cambial] com a intenção de conter a inflação. Ele pretende reverter também as expectativas que, em um mês, ficaram muito ruins.
Sequelas
O meio que está sendo usado pode trazer alguns benefícios de curto prazo, porque não é só o produto importado que fica mais barato. Há impacto também nos preços dos alimentos. Com o dólar mais barato, a expectativa é que os preços dos alimentos percam a intensidade de alta. Pode conseguir algum sucesso agora, mas vai deixar sequelas.
A indústria volta ao processo de desindustrialização. Os investimentos que o governo esperava da indústria não ocorrerão, já que ficará impossibilitada de exportar.
Isso inibe também investimentos no Brasil, que já não é mais a grande estrela. Esse cenário negativo se acentua quando o investidor percebe que o governo está artificializando o câmbio. O fluxo cambial negativo deve se acentuar.
Risco de desvalorização
No médio prazo, acho que a pressão vai ser de alta (do dólar). O BC vai ter de enfrentar essa pressão. Se ele quiser evitar taxas a níveis que possam comprometer mais a inflação, vai ter de mexer nas reservas.
A chance que eu via para o governo aumentar o ingresso de capitais seria que o processo de licitação e privatização tivesse foco em investidores estrangeiros e não em investidores nacionais com dinheiro do BNDES, porque esse pessoal poderia trazer grandes somas de capital ao país.
Se não temos atratividade pelo crescimento, temos oportunidades na reformulação e atualização das deficiências da nossa infraestrutura.
Veículo: Folha de S.Paulo