Apontado como um entre vários fatores que prejudicaram o crescimento da indústria em 2012, o acúmulo de estoques não parece mais ser um problema generalizado neste começo de ano. Com menor volume de mercadorias prontas, a expectativa é que a indústria aumente o ritmo de produção para atender novas encomendas.
Em dezembro de 2011, seis entre 14 setores industriais pesquisados pela Fundação Getulio Vargas (FGV) estavam superestocados, número que foi reduzido a apenas um no mesmo mês de 2012. Na média, a diferença entre as empresas com estoques excessivos e insuficientes era de oito pontos no fim de 2011. Em dezembro de 2012, foi de um ponto. No conceito da FGV, quando essa diferença é superior a dez pontos percentuais, a indústria encontra-se muito estocada.
O forte ajuste foi puxado principalmente pelo setor automotivo, que, devido à antecipação de consumo provocada pelo IPI reduzido com término em 31 de dezembro, tem relatado estoques insuficientes para atender a demanda. Enquanto, na média, 5,9% dos empresários afirmaram possuir mercadorias prontas em volume abaixo do normal em dezembro, essa fatia foi de 23,7% no segmento de material de transporte, onde está a indústria automobilística. Essa situação, no entanto, é vista como passageira por Aloisio Campelo, superintendente-adjunto de ciclos econômicos da FGV.
"A falta de estoques nesse setor pode contribuir para estimular a economia mas, aos poucos, a indústria automotiva não ficará mais tão pressionada porque houve uma forte antecipação de consumo no ano passado", diz. A despeito dessa questão, que avalia como pontual, Campelo afirma que a indústria, de modo geral, conseguiu equilibrar melhor seu fluxo de fabricação e entrega de bens ao longo de 2012 - ano em que a produção recuou 2,3%, segundo o consenso de mercado, enquanto as vendas no comércio cresceram perto de 9% - e, agora, conta com um empecilho a menos para se recuperar, apesar de o ambiente externo seguir desafiador.
No front doméstico, o economista da FGV ainda vê o elevado nível de endividamento das famílias como fator de contenção da demanda, mas diz que a queda dos juros, o câmbio em patamar mais favorável à indústria e a regularização do crédito indicam reação da produção. "2013 vai ser um ano melhor e com certeza os estoques mais ajustados vão colaborar para isso."
Por outro lado, o setor de bens de capital, que sofreu com o tombo do investimento e tem peso de 12,5% na indústria, ainda precisa queimar seus estoques. Na contramão da maior parte das outras categorias de uso, os fabricantes de máquinas e equipamentos ficaram ainda mais estocados na passagem do terceiro para o quarto trimestre de 2012, quando a diferença entre empresas com inventários excessivos e insuficientes avançou de 6,6 pontos para 23,7 pontos. Na mesma comparação, esse número passou de 4,1 pontos para 1,5 ponto percentual na média de todos os ramos.
Em que pese os estoques acima do planejado, a confiança do setor subiu 11% entre novembro e dezembro, acompanhada por estimativas de aumento da produção nos próximos três meses e por expectativas mais otimistas em um horizonte mais longo, de seis meses. Esses dados, na visão de Campelo, são sinais incipientes de melhora para o segmento de bens de capital, que neste ano deve reagir com mais fôlego aos estímulos ao investimento, após cinco trimestres seguidos de recuo da Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF, medida das contas nacionais do que se investe em máquinas e construção civil).
Para Braúlio Borges, economista-chefe da LCA Consultores, a recente piora no nível de estoques de bens de capital pode estar relacionada a um adiamento planejado de compras. Anunciadas na última semana de agosto, a depreciação acelerada para compras de máquinas e caminhões e a redução agressiva dos juros de algumas linhas do Finame, do BNDES, entraram em vigor apenas um mês e meio depois disso, o que prejudicou as vendas nesse período. "O governo foi bem intencionado em anunciar uma série de medidas pró-investimento, mas elas foram mal implementadas", diz.
Com base em dados como a alta de 4% na média diária de licenciamentos de caminhões e ônibus na primeira quinzena de janeiro, feito o ajuste sazonal, e aceleração das consultas ao BNDES no fim de 2012, Borges acredita que os estoques de bens de capital devem ficar mais equilibrados já no início de 2013, ano para o qual espera forte retomada do investimento. Com exceção de máquinas e equipamentos, o analista vê uma situação bem mais confortável para a indústria neste início de ano no que se refere a mercadorias paradas. "A indústria começa 2013 de forma bem melhor do que 2012, quando os estoques foram uma herança maldita."
Veículo: Valor Econômico