Diferença nas transações de bens e serviços com o exterior foi de US$ 54,2 bilhões e atingiu o mais alto nível desde início da série histórica
O resultado negativo do Brasil nas transações de bens e serviços com o exterior bateu novo recorde no fim do ano passado e começou 2013 em níveis superiores aos do início de 2012. Segundo o Banco Central, o déficit externo do País atingiu US$ 54,2 bilhões, mais alto patamar da série iniciada em 1947. O aumento se deu, principalmente, por causa da queda no saldo comercial.
No sentido contrário, a redução nas remessas de lucros e o crescimento menor dos gastos com serviço ajudaram a segurar a saída de dinheiro do País. Somente em dezembro, mês de fortes remessas de lucros e viagens, o déficit atingiu o mais alto nível da série: US$ 8,4 bilhões.
Para janeiro, o BC prevê resultado negativo de US$ 8,3 bilhões, segundo pior valor mensal das estatísticas oficiais. Dessa vez, pesam o fraco resultado da balança comercial, além das viagens de férias para fora do País.
O chefe do Departamento Econômico do BC, Tulio Maciel, avalia que a piora recente no déficit mensal é "moderada". Afirmou ainda que resultados negativos nessa conta são normais em países em desenvolvimento, pois significam migração de poupança externa para o País. Na comparação com o tamanho da economia brasileira, o déficit ficou em 2,4% do Produto Interno Bruto (PIB), maior valor desde 2001, quando estava em 4,2%.
Investimentos. O BC destacou ainda que, no ano passado, o Brasil conseguiu financiar com folga o déficit externo com Investimentos Estrangeiros Diretos (IED) em empresas, que somaram US$ 65,3 bilhões, queda de 2% em relação a 2011. Para 2013, segundo previsão divulgada em dezembro pelo BC, déficit e investimentos diretos devem ficar no mesmo valor: US$ 65 bilhões.
Se os números se confirmarem, será a primeira vez desde 2001 em que o IED não supera o déficit externo. Para janeiro, o BC prevê US$ 4,5 bilhões, queda de 17% em relação ao mesmo mês de 2012. A manutenção do IED abaixo do recorde de 2011, de US$ 66,7 bilhões, esperada para 2013 pelo BC, reflete a tendência mundial de retração nesse fluxo, segundo a Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais e da Globalização Econômica (Sobeet). "Há evidente tendência de redução dos movimentos de IED no mundo, e o Brasil não será exceção."
Viagens. O BC informou ainda que o gasto de turistas brasileiros no exterior bateu novo recorde em 2012, apesar de ter desacelerado. Essas despesas somaram US$ 22,2 bilhões, alta de 4,6% ante 2011. Nos dois anos anteriores, o crescimento havia sido, respectivamente, de 51% e 30%. Para o BC, a alta da renda mais que compensou o aumento do dólar.
Os números mostram ainda que o IOF de 6,38% sobre gastos internacionais no cartão, criado em 2011, levou os turistas a optar por outras formas de pagamento, como dinheiro em espécie e cartões pré-pagos. Em 2010, 62% dessas despesas eram pagas no crédito. Em 2012, foram 55%.
Veículo: O Estado de S. Paulo