Apesar de Mantega dizer que alta não passaria de 4% para consumidor, preço subiu 6,6% nas refinarias
No primeiro dia após o anúncio de aumento dos combustíveis no país, 70% dos postos pesquisados por Zero Hora em Porto Alegre aumentaram o preço da gasolina nas bombas.
O reajuste médio foi 6,6%, uma alta de R$ 0,18 por litro — acima dos 4% estimados pelo governo como impacto aos consumidores.
Dos 30 estabelecimentos visitados pela reportagem, 11 informaram alta de R$ 0,20 no litro da gasolina. Proprietário de um posto de combustível na zona Sul da Capital, Martin Tutton trocou as tabelas de preço na tarde de ontem, após a entrega da primeira carga reajustada na refinaria.
— Por enquanto, aumentei R$ 0,10 o litro. Conforme os cálculos dos custos e margem de lucro, poderei subir mais na próxima semana — disse Tutton.
Para o ministro da Fazenda, Guido Mantega, a alta nos postos de combustíveis não passaria de 4%.
— Faz muitos anos que o preço da gasolina está defasado em relação à inflação. É uma pequena correção que não vai atrapalhar ninguém — disse.
Depois de ver os primeiros reajustes de preço no país, o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, disse que o governo vai fiscalizar o repasse:
— O governo concedeu aumento de 6,6% e vai fiscalizar rigorosamente. Não pode chegar a esse patamar. Se chegou, é irregular.
Na tentativa de atenuar o impacto do aumento do combustível nas refinarias no preço nos postos, o ministro Lobão informou que o governo vai antecipar em dois meses o aumento da mistura do etanol na gasolina de 20% para 25%. Prevista para junho, começará a valer em 1º de maio. Em 2011, o percentual de álcool adicionado à gasolina teve redução de cinco pontos por causa da falta de etanol.
A Fecombustíveis (entidade nacional dos postos) informa que o percentual do repasse depende de fatores como concorrência, demanda e variações de margens de lucro de postos e distribuidoras.
A alta nas bombas poderia ser menor que o aumento de 6,6% repassado às refinarias porque o combustível recebe uma adição de 20% de álcool nos postos, produto com preço menor. Mas, na prática, essa não deverá ser a regra.
— Muitos postos aproveitam para repor a margem de lucro, já que o preço é livre. Por isso, o aumento médio deve ficar acima do valor estimado pelo governo — disse Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura.
Na inflação, a alta no entanto, tende a ser compensada pela queda nas contas de energia, avalia o economista André Braz, da Fundação Getulio Vargas:
— Não fosse a redução da energia, que supera o aumento da gasolina, o impacto na inflação seria bem mais apimentado.
Como o reajuste dos combustíveis afeta a vida dos brasileiros:
GASOLINA
Aumento de 6,6% na refinaria
Custo de vida
Gasolina tem peso de 4% no orçamento das famílias. O impacto vai depender do número de carros e da frequência em que são abastecidos
Inflação
Alta de 0,2 ponto percentual no Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA)
DIESEL
Aumento de 5,4% na refinaria
Transporte de carga
Aumento de 2,5% a 3% nos fretes das transportadoras
Transporte público
Aumento impacta diretamente no preço das passagens de ônibus urbanos e interurbanos
Alimentos
O custo do transporte representa 2% no preço dos alimentos. Dessa forma, o aumento não deve passar de 0,1%. Produtos de perfumaria, limpeza e sacos plásticos deverão ter subir em média 4% pelo aumento do petróleo nas refinarias
Bens duráveis
Poderão sofrer impacto pela necessidade de ser transportado por meio rodoviário
Veículo: Zero Hora - RS