O anúncio do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior de que até março haverá registro de US$ 2,9 bilhões adicionais de combustíveis desembarcados em 2012 não muda as tendências de importação e exportação projetadas pelos economistas, mas deve alterar a expectativa do nível de superávit comercial para o ano. Em janeiro o Brasil ficou com déficit comercial de US$ 4,04 bilhões, recorde para o mês desde 1993. As exportações caíram 1,1% em relação a janeiro de 2012 pelo critério de média por dia útil. Puxado pelos combustíveis, porém, a elevação das importações é que foi decisiva para o recorde do déficit.
As importações em janeiro subiram 14,6%. A compra de combustíveis teve no mesmo período elevação de 55,7%, totalizando US$ 4,07 bilhões. Dentro dessa conta estão US$ 1,6 bilhão em importações de combustíveis feitas no terceiro trimestre de 2012, que foram contabilizadas apenas agora. Esse descompasso é resultado de uma alteração feita em julho em norma da Receita. Segundo Tatiana Prazeres, secretária de Comércio Exterior, a Petrobras informou que ainda faltam US$ 2,9 bilhões em operações de importação de combustíveis que serão contabilizadas nos dados da balança comercial de fevereiro e março. Por isso é possível que esses meses continuem com déficit. Ainda assim, diz, a expectativa é de superávit para o ano.
Fabio Sileira, da RC Consultores, também acha que a contabilização tardia dos desembarques de combustíveis não deve afetar a tendência da balança. Ele diz, porém, que vai esperar mais alguns meses para rever as projeções. Atualmente, a consultoria tem a previsão de superávit de US$ 10 bilhões.
"É possível que façamos os recálculos de saldo comercial. Já sabíamos que havia o carregamento desses desembarques para este ano, mas não tínhamos informação de quanto era isso", diz Silvio Campos Neto, da Tendências. Pela última projeção, a Tendências estima superávit de US$ 15 bilhões.
José Augusto de Castro, presidente da Associação de Comércio Exterior, diz que a sua estimativa de US$ 14,6 bilhões de saldo positivo para 2013 já contabiliza os desembarques de combustíveis realizados em 2012. Para ele, porém, o valor em defasagem é maior. Em suas projeções, ele levou em consideração US$ 6 bilhões em desembarques de combustíveis não registrados em 2012. "Os combustíveis atrasados vão afetar o resultado final do ano, mas o importante é analisar a dinâmica estrutural da nossa balança. Desaquecimento das economias desenvolvidas, excesso de manufaturados asiáticos, indústria nacional com pouca competitividade e mercado interno com crescimento alto compõem esse quadro maior de longo prazo."
Veículo: Valor Econômico