Belo Horizonte fechou janeiro na liderança de um ranking desagradável. A cidade obteve o maior percentual (1,29%) no Índice de Preços ao Consumidor Semanal (IPC-S), medido pela Fundação Getulio Vargas (FGV), na última semana de janeiro. É bom recordar que o indicador anterior já havia sido alto, de 1,24% – oscilação de 0,05 ponto percentual. Das sete capitais analisadas, quatro tiveram altas, com destaque negativo também para a segunda posição, Brasília, que registrou a maior diferença entre as duas últimas semanas, de 1,01% para 1,27% – aumento de 0,26 ponto percentual. Ainda assim, a média nacional registrou leve queda em igual período, de 1,03% para 1,01% .
Com a divulgação dos dados do IPC-S ontem, melhorou um pouco, mas continua difícil para o Banco Central segurar a onda da inflação. A desaceleração de preços se concentrou em Salvador (de 1,07% para 0,93%), Rio de Janeiro (de 1,05% para 0,88%) e São Paulo (de 1,02% para 0,98%). Por outro lado, além de BH e Brasília, o custo de vida subiu em Recife (de 1,16% para 1,17%) e Porto Alegre (de 0,87% para 0,92%).
Em pleno período de férias e com todo mundo em casa, os preços dos alimentos simplesmente ainda não retrocederam. “Estão no pior nível para um mês de janeiro desde 2003”, constatou o economista André Perfeito, da Gradual Investimentos. Segundo ele, os dados de inflação não poderiam ser piores. O IPC da Fipe, por exemplo, fechou janeiro em 1,15%, acumulando 5,62% em 12 meses. É o pior resultado desde novembro de 2011 e a trajetória é de alta.
Quatro dos oito grupos que formam o IPC-S apresentaram altas em Belo Horizonte. Destaques para o item despesas diversas, cujo percentual passou de 2,7% para 4,12%, e para o de educação, de 2,46% para 3,54%. Fabiana de Paula Florêncio pesquisou os preços do material escolar de suas duas filhas no fim do ano passado, mas deixou para comprar os produtos ontem, no primeiro dia da volta às aulas, por acreditar que os valores estariam mais baixos. Ela não deu sorte: “Estão mais altos”.
Pesquisa
A comerciante Ana Lúcia Gomes também se surpreendeu com os valores cobrados nas livrarias da capital mineira. “Se a pessoa não gastar muita sola de sapato, vai pagar mais caro”, alertou ela, que voltou para casa com sacolas cheias de cadernos, livros, dúzias de lápis coloridos e borrachas. O lamento das duas mães foi reforçado por uma recente pesquisa do site Mercado Mineiro, a qual mostra que o valor de alguns produtos oscila 500%.
É o caso da folha de papel fantasia, de R$ 0,15 a R$ 0,90. Nas outras capitais, o iten educação também apurou aumento: em São Paulo, de 3,01% para 4,59%; em Salvador, de 2,67% para 3,72%; no Rio de Janeiro, de 3,81% para 4,76%; no Recife, de 2,82% para 4,17%; em Porto Alegre, de 2,49% para 3,38%; em Brasília, de 0,85% para 2,14%.
Tomate: novamente o vilão
Mas o grupo educação, que inclui o material escolar, não foi a única mola a impulsionar o IPC-S em Belo Horizonte. Dentro do grupo alimentação, cujo percentual passou de 2,78% para 2,80%, o tomate voltou a disparar. O percentual do fruto passou de 57,99% para 72,52%. Em muitos sacolões da Grande BH, o quilo está em torno de R$ 7. A cifra é maior do que a do quilo do frango, que, dependendo do açougue e da região, fica em torno de R$ 6.
Ricardo Martins, analista da seção de Informações de Mercado do entreposto Contagem da Ceasa Minas, explica que a alta do preço do tomate nesta época do ano é sazonal. “De janeiro a abril, parte das hortaliças, principalmente as verduras de folhas e o tomate, sofrem um pouco, pois ou há muita chuva ou sol muito forte depois das pancadas de águas. O preço da caixa de 20 quilos do tomate hoje (ontem) foi negociada a R$ 45. O preço normal (fora desta época do ano) é de R$ 25 a R$ 30.”
Focus
Com tantos índices indicando trajetória ascendente para os preços, a projeção do mercado financeiro para a inflação oficial, medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), não poderia ser diferente. Pela quinta semana consecutiva, o relatório Focus, do Banco Central, apontou alta para os preços. Para os analistas a inflação vai chegar ao final de 2013 em 5,68%. Quatro semanas atrás, a expectativa estava em 5,49%. Para 2014, os analistas mantiveram a previsão de IPCA fechando em 5,50% pela 12ª semana consecutiva.
Inflação em alta este ano não significa crescimento econômico na mesma proporção. O mercado não melhorou de humor com relação à expectativa para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) este ano, que permaneceu em 3,10%. Parece que os analistas só conseguem enxergar alguma melhora na economia mais a longo prazo. Para o ano que vem as estimativas estão mais otimistas. O PIB para 2014 , segundo o relatório Focus, passou de 3,65% para 3,70%. É a segunda semana consecutiva de alta para o crescimento do país no ano que vem.
Veículo: Estado de Minas