Com as fortes chuvas em boa parte do país, os preços de frutas, legumes e verduras disparam e comprometem o orçamento das famílias
O novo ano trouxe uma temporada de muita chuva e estrago no bolso do consumidor. Com o grande volume de precipitações, houve uma verdadeira disparada nos preços de legumes, verduras e frutas. O clima afeta diretamente a produção: estraga os alimentos mais sensíveis, e o que não é perdido vai para as gôndolas dos mercados com qualidade ruim. Com a escassez, itens comuns na mesa do brasileiro já estão até 300% mais caros. É o caso do quiabo, que passou de R$ 2,97, o quilo, para R$ 12,59, alta de 323,9%.
“Desde dezembro, houve registro de 15 horas seguidas de chuva em um único dia. Assim, alimentos mais frágeis acabam prejudicados. Além disso, a procura por eles continua elevada, o que faz com que os preços subam, mesmo que o produto tenha baixa qualidade”, ressalta o presidente da Central de Abastecimento do Distrito Federal (Ceasa-DF), Wilder Santos. Os brasileiros já sentiram o aumento do custo de vida no orçamento. Em alguns estabelecimentos percorridos pelo Correio, faltam folhagens como rúcula e alface — verduras que ficaram até 79,8% e 28,6% mais caras, respectivamente (veja quadro).
Os preços inflacionados fizeram a aposentada Maria Helena Pinho Alencar, 63 anos, desistir de alguns itens comuns na mesa de casa. “Cheguei a pagar, na semana passada, R$ 4 no quilo do tomate. Agora, está custando R$ 7,99. Ou seja: não vou comprar”, reclamou. Segundo Maria, dois meses atrás, ela conseguia driblar as altas dos preços ao trocar produtos pelos da estação. Mas hoje nem isso, nem as promoções estão valendo a pena. “Se eu não comprar direto no centro de distribuição de hortaliças e frutas, pago bem mais. E a qualidade é péssima”, comparou.
O funcionário público Célio Rodrigues, 51, e a aposentada Leila Faria, 54, lamentam a qualidade do que encontram nas prateleiras. “Além do preço lá no alto, o alface, por exemplo, está ruim”, disse ele. Leila conta que também teve de reduzir a lista de hortifruti que consome. O repolho, por exemplo, está custando, no estabelecimento onde o casal estava ontem, R$ 3,19 — em promoção, pode chegar a R$ 2,99. “Faz três meses que eu não compro. Ficou muito caro, e, quando o encontro, as folhas estão murchas e amarelas”, observou a aposentada.
No cultivo
Os prejuízos para quem vive do cultivo também são grandes. Alguns produtores estimam perda de até 70% da safra. Por isso, são obrigados a reajustar o que é aproveitável para tentar minimizar esse impacto. O agricultor Ricardo Airton Krewer, 37, conta que, na chácara dele, em Planaltina, as culturas mais atingidas pela variação climática foram as de pimentão, tomate e repolho. “Nos últimos meses, passamos de um período com dias de sol forte para outro com chuvas intensas. A plantação sofreu bastante”, contou.
Para exemplificar, Ricardo conta que a caixa com 20kg de tomate, normalmente vendida entre R$ 25 e R$ 40, chega hoje a R$ 100. Parte desse custo, ressalta o produtor Edson Luiz Bernardes Ferreira, 52, do Núcleo Rural do Torto, deve-se aos efeitos da chuva também nas rodovias. “A água acaba com as estradas, o que dificulta o transporte do pouco que sobrou.” Ele estima ter perdido entre 60% e 70% do que cultivou. O prejuízo só não foi maior porque, quando as chuvas se intensificaram, parte da produção já estava em fase de colheita. “O que tem ido para os supermercados é bem inferior ao que é vendido no resto do ano.”
Para aliviar o peso dos hortifruti no bolso, Wilder Santos, da Ceasa, sugere que os consumidores substituam os itens com maior aumento por outros mais em conta. “O ideal é pesquisar e trocar na hora de comprar”, disse. A empregada doméstica Domingas Soares, 47, segue o conselho à risca. “Não levo mais tomate nem cenoura: estão muito caros. Já vi produtos que, geralmente, não custam mais que R$ 4, o quilo, por R$ 7. É um absurdo. O jeito é não comprar agora e esperar o fim das chuvas, já que todo ano o episódio se repete”, resignou-se.
Veículo: Correio Braziliense