A inflação de janeiro, que subiu 0,86%, maior aumento para o primeiro mês do ano desde 2003, provocou nova deterioração nas estimativas para o acumulado de 2013, mas economistas apontam que questões mais estruturais também podem ter influenciado a piora adicional nas projeções para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), como os reajustes mais disseminados pela economia e a resistência dos núcleos, medidas que tentam eliminar ou diminuir o impacto de itens voláteis sobre a variação de preços.
Os analistas elevaram sua expectativa para a inflação deste ano pela sexta semana consecutiva, de acordo com o boletim Focus, do Banco Central, que apura projeções com cerca de cem instituições e foi divulgado ontem. A mediana das previsões para o IPCA subiu de 5,68% para 5,71% para 2013. Há um mês, estava em 5,53%.
Apesar de o avanço do indicador na abertura do ano não ter surpreendido a Tendências Consultoria, o economista Silvio Campos Neto afirma que o índice de difusão do IPCA mostrou sinais de uma inflação mais espalhada, movimento que invalida a análise de que os índices de preços estão mais pressionados apenas por fatores pontuais, com destaque para a alta dos alimentos.
Definido como a proporção de itens da cesta de consumo com aumento mensal de preços, o índice de difusão atingiu 75,1% em janeiro, maior percentual para qualquer mês desde abril de 2003, quando os preços sofriam o efeito da forte desvalorização cambial observada no ano anterior. "Esse processo de altas disseminadas faz com que os agentes demonstrem um desconforto muito grande com a inflação", disse o analista.
Campos Neto ainda nota que os núcleos de inflação continuaram piorando no primeiro mês do ano. A média das três medidas mais usadas avançou de 0,66% para 0,67% entre dezembro e janeiro. "Fevereiro será um mês de inflação mais baixa, mas passado o efeito da queda de energia elétrica, não há perspectiva de mudanças para a dinâmica de preços", avalia Para 2013, a consultoria projeta alta de 5,8% para o IPCA, pouco acima da mediana do mercado.
Em relatório, a equipe econômica do Itaú Unibanco aponta que a inflação ficou acima do esperado em dezembro, quando o IPCA subiu 0,79%, e seguiu pressionada no início do ano, mesmo com o adiamento de alguns reajustes de preços e com a ajuda inicial da queda da tarifa de energia elétrica residencial, que passou a valer no dia 24. O banco projeta desaceleração em fevereiro, puxada pelo corte de 18% nas contas de luz, que deve tirar 0,5 ponto do IPCA deste mês, e também por altas menores nos preços de alimentos.
Para o acumulado de 2013, porém, o Itaú elevou de 5,6% para 5,7% sua previsão para o avanço da inflação oficial, ao incorporar em seu cenário o uso das térmicas para geração de energia ao longo de todo o ano, o que, segundo a instituição, compensará parte do recuo dos preços de energia. A despeito de um quadro mais favorável para os alimentos, a equipe econômica do banco estima que o grupo transportes deve pressionar mais a inflação este ano, como reflexo do fim do IPI reduzido para automóveis e dos reajustes da gasolina e de ônibus urbano.
Após a divulgação do IPCA de janeiro, o presidente do BC, Alexandre Tombini, afirmou que "a inflação preocupa no curto prazo" e que "o BC está avaliando tudo", o que foi interpretado como uma sinalização de que o aumento dos juros neste ano estaria entre as alternativas para combater a inflação. Depois, em entrevista ao Valor, Tombini afirmou que "a comunicação da última ata do BC não foi alterada", referindo-se à menção de que o juro deve seguir inalterado por tempo prolongado.
A despeito de esperarem uma inflação maior, os analistas ainda projetam que a taxa básica de juros terminará o ano no nível atual, 7,25%, para depois subir em 2014, chegando ao fim do próximo ano em 8,25%. Campos Neto, da Tendências, observa que a curva de juros já começa a indicar uma alta da Selic ainda em 2013. O cenário base da consultoria não conta com um ajuste para cima neste ano, mas essa possibilidade aumentou, de acordo com o economista.
"Se a dinâmica inflacionária seguir nessas condições ou houver piora adicional, será muito difícil para o BC evitar a necessidade de algum ajuste. Sabemos que isso tem de passar pelo crivo do governo, mas a situação vai se tornando mais preocupante", disse.
Veículo: Valor Econômico