A indústria brasileira atraiu US$ 22,2 bilhões em investimento estrangeiro direto (IED) como participação no capital de empresas instaladas por aqui. Esse volume de recursos, contabilizado pelo Banco Central (BC), revela que o apetite do investidor em apostar na produção local pode ter recuado, pois este é um patamar 17,1% menor que os R$ 26,8 bilhões registrados em 2011.
No entanto, o montante ainda indica que o Brasil é um dos destinos mais procurados para a instalação de uma fábrica. Esse patamar pode ser acelerado nos próximos anos com o aumento da competitividade que se avizinha, resultado das medidas de incentivo do governo federal para reduzir o custo operacional das unidades e melhorar a infraestrutura para escoar a produção. O destaque deve ficar com as empresas cuja produção priorize atender o mercado interno.
A participação da indústria no montante do IED representa 38,7% do total investido no capital das empresas brasileiras em 2012. Para efeitos de comparação, a agricultura, pecuária e atividades extrativas ficaram com 10,8% e 51,9% no setor de serviços, que ganhou espaço, em relação a uma participação de 46% no IED no ano anterior.
De acordo com o economista do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), Rogério Souza, esse avanço do terceiro setor é recente e inclui a área financeira, entre outras atividades, o que explica o amplo alcance dessa divisão e que no País tem avançado no recebimento dos aportes internacionais, mais que o setor produtivo.
"A participação da indústria já foi de mais de 50% do IED, mas isso, na época das privatizações. Da mesma forma, os investidores já colocaram menos recursos no setor produtivo. Portanto, mesmo com a queda de 2011 para 2012 a perspectiva é positiva com o conjunto de medidas e incentivos concedidos pelo governo federal, que elevarão a capacidade de competição da indústria nacional, uma demanda de muito tempo dos empresários", disse ele, para quem a participação sobre os investimentos medidos pelo IED deverá se estabilizar no atual patamar, com leves variações percentuais, para cima ou para baixo.
Dentre os setores industriais, a metalurgia lidera os aportes, tendo recebido US$ 5,3 bilhões, ou 23,8% do total de investimentos estrangeiros na indústria. O segmento de alimentos e bebidas obteve ingressos de US$ 5,09 bilhões, ou 22,9% do total da indústria - o dobro da importância que tinha em 2011, quando atraiu 11,4% dos investimentos.
Produtos químicos estão em terceiro lugar, com US$ 1,8 bilhão em investimentos (8,4%), seguido por produtos farmacoquímicos e farmacêuticos, somando R$ 1,5 bilhão (7%), ante uma média de R$ 370 milhões nos cinco anos anteriores. O setor automotivo completa o ranking dos cinco segmentos com maior volume de entrada de capital estrangeiro, com R$ 1,2 bilhão (5,6%).
Força do consumo
"O apelo do País para atração de investimentos cresceu muito, por questões macroeconômicas; em 20 anos, passamos da 19ª para a terceira posição, atrás apenas de Estados Unidos e China", observa o presidente da Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais e da Globalização Econômica (Sobeet), Luís Afonso Lima. "No entanto, para a indústria, apesar do aumento do volume de aportes, há uma tendência de queda na participação no montante total de investimento, com o crescimento do setor de serviços, tradicionalmente beneficiado pelo dinamismo do mercado interno", afirma.
Segundo o economista, isso se reflete também na distribuição do investimento pelos setores industriais. "Os setores que são voltados para o mercado interno estão crescendo e o contrário acontece com os produtos voltados para exportação", ressalta. São exemplos desse avanço produtos alimentícios e farmacoquímicos, voltados para o consumo local. "Perdemos espaço como plataforma de exportação para a América Latina, e isso deu espaço à percepção do dinamismo do mercado consumidor", diz.
O presidente da Agência Paulista de Promoção de Investimentos e Competitividade (Investe São Paulo), Luciano Almeida, afirma que houve uma mudança no perfil do investidor atraído para o País. "Nos primeiros anos [da agência], eram poucos projetos de grande porte e, a partir de 2012, começamos a ter projetos de médio e pequeno porte. Os grandes players vieram primeiro, e depois seus fornecedores: é 'a nova onda' ", afirmou.
No entanto, o futuro preocupa. "O crescimento da carteira já não é tão expressivo, mas como ela ainda é muito forte, muita coisa deve se realizar em 2013. Nossa preocupação é com o depois, pois a reposição não está com a velocidade desejável", afirma. "O Brasil já não é o país da moda", decreta. Almeida também acredita que as mudanças nos marcos regulatórios brasileiros, a redução do preço dos insumos básicos, do custo de investimento e, principalmente, da carga tributária, são passos importantes para recuperar o interesse dos investidores internacionais para o País.
Para Souza do Iedi, a adoção das medidas de incentivo são a sinalização de que o governo está sensível à necessidade da indústria, porém ainda há outro fator. "A indústria brasileira tem que fazer a lição de casa e buscar maior produtividade para enfrentar a concorrência, principalmente, aquela vinda da China", disse.
Veículo: DCI