Escalada nos preços acima dos 6% dá ao Banco Central uma árdua batalha pela manutenção de sua política monetária
Com a inflação em 12 meses ultrapassando a faixa de 6%, próxima do teto de 6,5% do intervalo de tolerância da meta, o Banco Central (BC) está engajado numa árdua batalha para controlar as expectativas e resgatar a credibilidade da política monetária.
O descontrole das expectativas fica claro nas projeções médias do mercado da inflação no longo prazo, em anos além do corrente. Há dois anos, elas sempre ficavam em 4,5%, o centro da meta. Há um ano, a projeção para 2013 e 2014 já era de, respectivamente, 5% e 4,8%, mas a de 2015 e 2016 ainda se mantinha em 4,5%. Hoje, todas as projeções até 2017 estão em 5% ou mais.
A principal preocupação é a expectativa para 2013, que subiu de 5,4% em outubro do ano passado para 5,68% hoje. “A prioridade absoluta do Banco Central é evitar que as expectativas continuem a se deteriorar”, diz um experiente economista do mercado financeiro.
Para ajudar o BC, que tem insistentemente declarado que está preocupado com a inflação, o governo vem lançando mão de uma série de medidas que impactam o preço de produtos e serviços específicos, como a desoneração do IPI dos automóveis no ano passado, a redução do custo da energia elétrica e a prometida desoneração da cesta básica e do Imposto de Importação do trigo.
Segundo as contas dos economistas de um banco operando no Brasil, esse conjunto de medidas pode tirar até 0,83 ponto porcentual da inflação de 2013.
Mas a estratégia de tentar segurar preços específicos é vista com reservas, como uma tentativa de controlar os sintomas, em vez de atacar as causas da inflação. “Não adianta varrer a poeira para debaixo de tapete”, diz o economista Fernando Rocha, sócio da gestora de recursos JGP.
A arma por excelência do BC seria o aumento da taxa básica de juros, a Selic, hoje no mínimo histórico de 7,25%. Na sua comunicação, porém, como na ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), o BC vem mantendo que “a estabilidade das condições monetárias por um período de tempo suficientemente prolongado é a estratégia mais adequada para garantir a convergência da inflação para a meta”.
Para o mercado, isso significa um longo período com a Selic parada no atual nível. Até há algum tempo, muitos imaginavam que essa estabilidade poderia atravessar todo o ano de 2013.
Uma fonte da equipe econômica, porém, lembra que “os comunicados são condicionais, não são compromissos; o compromisso do Banco Central é com a inflação, não com o instrumento – e, se for preciso usar os instrumentos, o Banco Central certamente vai usar”. Por outro lado, observa a fonte, “o BC não trabalha na alta frequência, é um trabalho trimestral (referência aos Relatórios de Inflação), há um tempo para avaliar”.
Veículo: O Estado de S.Paulo