Com a antecipação da queda das tarifas de energia para o consumidor e o adiamento do reajuste de ônibus urbano em São Paulo e no Rio de Janeiro, o governo deve ter conseguido evitar que a inflação oficial em janeiro superasse alta de 1%. Mesmo assim, o avanço ainda forte de alimentos e pressões pontuais mantiveram o índice em nível elevado e, no acumulado em 12 meses, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) pode superar 6% pela primeira vez desde janeiro do ano passado.
A média das estimativas de 11 consultorias e instituições financeiras ouvidas pelo Valor Data aponta para a alta de 0,83% do IPCA em janeiro, ante avanço de 0,79% em dezembro. A variação, calculam economistas, será bem mais forte do que o aumento de 0,56% observado no mesmo mês do ano passado e levará a inflação acumulada nos últimos 12 meses a alcançar 6,1%, maior alta desde os 6,22% acumulados em janeiro de 2012, quando o índice traçava rota oposta, de desaceleração. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulga o resultado hoje.
A alimentação, avalia Juan Jensen, economista e sócio da Tendências Consultoria, ainda será o principal grupo a pressionar o IPCA no primeiro mês do ano. O economista acredita que os preços desse grupo subiram 1,36% em janeiro, aceleração forte em relação à alta de 1,03% vista em dezembro. "Ainda observamos algum resquício do choque de oferta de grãos no ano passado, mas o comportamento dos preços dos produtos in natura, em função do clima, explica boa parte dessa estimativa", afirma.
A economista do Banco Fator, Natacha Perez, calcula que o grupo alimentação e bebidas terá alta de 1,6% em janeiro, mas ressalta que esses itens vão começar a desacelerar em fevereiro, reflexo da acomodação de preços já observada no atacado desde o fim de dezembro. A economista estima alta de 0,83% do IPCA no mês.
Para Jensen, o item transportes também subiu mais intensamente em janeiro. Nos cálculos da Tendências, o grupo vai deixar o avanço de 0,75% em dezembro para alta de 1,10% no primeiro mês deste ano. Apesar do reajuste das tarifas de ônibus urbano em São Paulo e no Rio de Janeiro ter sido adiado a pedido do governo federal, a recomposição parcial da alíquota de Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para automóveis levará a avanços nos preços dos carros novos.
Já o reajuste de 6,6% da gasolina nas refinarias não impactou o IPCA de janeiro, pois o aumento só passou a valer no dia 30, quando a coleta para o mês já havia terminado, afirma Natacha, do Fator.
Outro item que contribuiu para impedir que o IPCA tivesse alta superior a 1% logo no início do ano é a energia. De acordo com os cálculos do Itaú, a redução de 18% das tarifas de energia elétrica para o consumidor, em vigor desde 24 de janeiro, "tirou" 0,12 ponto percentual do índice do período. Ainda assim, o banco projeta alta de 0,83% do IPCA no primeiro mês do ano.
"Provavelmente o governo antecipou o início do reajuste [que antes passaria a valer apenas em 5 de fevereiro] para evitar que o IPCA avançasse 1% em janeiro. Sem essa medida e o adiamento do aumento de ônibus municipal em duas capitais, tranquilamente o índice superaria esse patamar", afirma Juan Jensen, da Tendências.
Por causa dos preços de alimentação em alta e pressões pontuais comuns no início do ano, período que costuma concentrar reajustes de serviços pessoais, a inflação acumulada nos últimos 12 meses deve alcançar 6,10% em janeiro, mais próximo do teto da meta perseguida pelo Banco Central, de 6,5%. Os economistas do Itaú, por exemplo, afirmam, em nota, que os preços dos serviços continuarão elevados, com alta esperada de 0,9% nesta leitura.
Os núcleos, que procuram suavizar ou eliminar o comportamento dos itens mais voláteis, continuarão a mostrar altas superiores ao índice cheio, afirma Jensen e, no acumulado em 12 meses, encostarão no teto da meta, mostrando que a alta do IPCA nos meses recentes não deriva apenas de fatores pontuais, mas é generalizada.
Veículo: Valor Econômico