No segundo semestre do ano passado os preços médios das importações brasileiras caíram, em dólar, 2,9% em relação aos seis meses anteriores. Em relação ao mesmo período de 2011, a queda foi de 2,1%. O comportamento do segundo semestre inverteu o sinal dos primeiros seis meses de 2012, quando houve elevação de 4% no preço dos importados. O recuo do segundo semestre fez com que, no ano, o preço médio dos importados, em dólar, ficasse praticamente estabilizado em relação a 2011, com alta de 0,9%. Essa evolução de preços em dólar contribuiu para limitar o efeito da desvalorização média de 17% do real na inflação.
Para 2013, porém, economistas acreditam que o comportamento de preços dos importados não contribuirá da mesma forma. Eles estimam tendência de maior alta, embora moderada, no preço médio dos desembarques. Ao mesmo tempo, porém, estimam uma desvalorização cambial menor, entre 2% e 5%, o que poderá trazer um impacto relativamente pequeno para a elevação da inflação de 2013.
No ano passado, levando em conta a combinação alta da desvalorização cambial e a elevação de 0,9% nos preços internacionais, o aumento de preços em reais foi de 17,7%, calcula Bráulio Borges, economista da LCA Consultores. O comportamento dos preços, ressalta ele, foi muito diferente do ano anterior. Em 2011, os preços internacionais tiveram alta, em dólar, de 14,3%. A valorização média do real frente ao dólar naquele ano, porém, resultou em alta de 8,6% nos preços em moeda nacional.
Para 2013, Borges acredita que haverá alta maior que a de 2012, mas moderada, dos preços internacionais. Se o nível do dólar for mantido em torno de R$ 2,00, estima, haverá uma desvalorização de cerca de 2%. A combinação de preços e câmbio resultará, neste ano, numa elevação de preços em moeda nacional de 5%, calcula Borges. "Se o câmbio for mantido nesse patamar, teremos um impacto tolerável dos preços internacionais na inflação", avalia.
Rodrigo Branco, economista da Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (Funcex), diz que a redução de preços dos importados no segundo semestre de 2012 foi resultado principalmente da baixa demanda internacional. Além disso, o recuo de preços também pode ter sido uma reação à desvalorização do real, que tornaria mais altos os preços dos importados em reais. Nessas mudanças, muitas vezes os preços em dólar são negociados entre fornecedor e importador. Os preços em dólar são reduzidos para dividir o impacto da mudança cambial.
Em 2013, porém, Branco prevê uma tendência contrária para os preços. Ele acredita na recuperação de alguns mercados, o que resultará em alta dos preços importados. Para ele, os dados mais recentes de produção industrial mostram que a economia chinesa poderá voltar a se acelerar, com crescimento de 8% no ano. "Os dados mostram que a China está saindo do processo de reestruturação de meados do ano passado, quando o governo chinês estava preocupado com a inflação." Branco também espera aceleração maior da economia americana, com crescimento que ele estima entre 2% e 2,5%.
O crescimento desses países, diz o economista da Funcex, deve aumentar a demanda internacional neste ano e elevar os preços internacionais. O efeito disso na inflação, porém, será menor que o do ano passado. "A sinalização do Banco Central é de se chegar a um patamar de câmbio que equilibre a rentabilidade ao exportador e a pressão sobre a inflação." Branco estima uma desvalorização perto de 2%, com câmbio batendo, no pico, a R$ 2,05.
José Augusto de Castro, presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), também prevê comportamento semelhante no câmbio. Ele acredita que os preços de importação devem subir em cerca de 2% a 3%. "Esse, porém, deve ser o patamar máximo." O motor para essa elevação, porém, diz, não deve vir de fora, mas do mercado interno. "Esse aumento de preços deve acontecer somente se houver uma aceleração maior da demanda doméstica, mas a expectativa não é grande para isso, apesar de as projeções de PIB indicarem crescimento entre 3% e 3,5%."
A expectativa de alta dos preços internacionais não é, porém, uniforme entre os economistas. Fabio Silveira, sócio da RC Consultores, estima que a tendência baixista do segundo semestre do ano passado nos preços de importação prossiga neste ano. Para ele, o quadro de superoferta que resultou no recuo dos preços no ano passado ainda será mantido este ano. A China, acredita, vai continuar a desacelerar, com crescimento de 6,5% em 2013. Os americanos, estima, vão crescer 1,5%.
Veículo: Valor Econômico