Além dos alimentos, mais de 70% dos preços sobem e pressionam IPCA

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A ajuda inicial da queda das tarifas de energia residencial e a ausência de reajustes de ônibus urbano nas duas principais capitais do país foram importantes pontos de alívio à inflação na abertura do ano, mas não evitaram que o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) registrasse sua maior alta para meses de janeiro desde 2003, ao avançar de 0,79% em dezembro para 0,86%.

A inflação de janeiro mostrou, porém, que mais de 70% dos demais bens e serviços - sem contar alimentos - subiram de preço. Assim, permanece a análise de que reajustes disseminados pela economia e os serviços são entraves a uma desaceleração mais consistente do IPCA em relação a 2012, quando a inflação oficial subiu 5,84%.

Além da alta de 6,15% do IPCA nos 12 meses encerrados em janeiro, patamar próximo ao teto da meta perseguida pelo Banco Central, de 6,5%, analistas viram com preocupação o índice de difusão (proporção dos itens que compõem a cesta de consumo que registraram aumentos), que atingiu 75,1% no primeiro mês do ano - maior percentual desde abril de 2003, quando os preços sofriam o efeito da desvalorização cambial observada no ano anterior. Excluindo-se alimentos, o economista Flávio Serrano, do BES Investimento, calcula que a difusão foi de 71,7% em janeiro, patamar alto.

Com impacto de 0,48 ponto percentual no IPCA, o grupo alimentação e bebidas respondeu por 56% da inflação de janeiro ao passar de 1,03% em dezembro para 1,99%, acima do esperado por Thiago Carlos, da Link Investimentos. Segundo Carlos, as condições climáticas desfavoráveis para a produção de produtos in natura determinaram o pico mensal da inflação de alimentos no ano, mas a trajetória desses itens não preocupa mais daqui em diante, pois os índices do atacado apontam para altas mais fracas no varejo.

Divulgada ontem pela Fundação Getulio Vargas (FGV), a primeira prévia do Índice Geral de Preços - Mercado (IGP-M) ficou estável entre janeiro e fevereiro, com alta de 0,41%, mas mostrou perda de fôlego importante nos preços agropecuários ao produtor, que deixaram aumento de 0,36% para deflação de 1,5%.

A despeito do cenário um pouco mais tranquilo para os alimentos, Carlos destaca que, mesmo com o recuo de 3,91% do item energia elétrica, que tirou 0,13 ponto do IPCA de janeiro, a média dos núcleos de inflação (medidas que tentam diminuir ou expurgar o impacto de itens voláteis sobre o IPCA) seguiu pressionada ao subir de 0,66% para 0,67%. Caso Rio e São Paulo tivessem reajustado passagens de ônibus no início do mês, aumentos adiados a pedido do governo federal para não acelerar ainda mais a inflação, a ajuda da energia seria totalmente mitigada, segundo os cálculos da Link.

Eulina Nunes dos Santos, coordenadora de índices de preços do IBGE, afirmou que o IPCA de janeiro captou apenas 25% do impacto da redução da tarifa de energia, já que a queda de 18% passou a valer no dia 24 e a coleta de preços foi encerrada no dia 29. A grande contribuição desse item para a inflação, disse Eulina, virá em fevereiro.

Em que pese a alta acentuada dos alimentos, o economista Fabio Ramos, da Quest Investimentos, avalia que o destaque do IPCA em janeiro foi uma recomposição de preços acima do previsto nos bens duráveis, que em 2012 acumularam retração de 3,4% com a ajuda do IPI reduzido para automóveis e linha branca. No primeiro mês do ano, a deflação nos últimos 12 meses foi reduzida para 2,5%.

Na passagem mensal, os bens duráveis avançaram de 0,18% para 0,86%, puxados por automóvel novo, eletrodomésticos e equipamentos, e TV, som e informática. "É uma alta disseminada", diz Ramos, reflexo não somente da volta gradual das alíquotas do IPI para carros, mas também do recente aumento de commodities metálicas, da depreciação cambial registrada em 2012 e de recomposição de margens de alguns fabricantes. Entre as altas, os refrigeradores, cujo IPI ainda permanece reduzido, subiram 2,89 %. Como noticiou o Valor, novas tabelas de preços de eletrodomésticos chegaram ao varejo, que resiste aos aumentos.

"A inflação de alimentos vai se descomprimir, mas iremos sentir a alta de metais. As siderúrgicas já reajustaram seus preços", observa o analista da Quest, que projeta avanço de 3% para os bens duráveis em 2013, movimento que, ao lado de outras pressões como tarifas de transporte urbano, deve manter o IPCA em 5,7% este ano. Após o dado de janeiro, Ramos elevou essa estimativa em 0,1 ponto.

Os serviços, por sua vez, cederam de 0,98% para 0,92% de dezembro para janeiro, influenciados por passagem aérea (17,1% para 5,1%), empregado doméstico (0,82% para 0,58%) e recreação (2,59% para 0,56%), mas seguiram rodando na casa de 8,5% em 12 meses. Apesar do recuo mensal, e também em relação a janeiro passado, quando esses preços subiram 1%, o superintendente de tesouraria do Banco Indusval & Partners, Daniel Moreli Rocha, observa que, há um ano, consultas médicas e passagens aéreas tiveram alta importante que influenciou o comportamento do grupo. "Desta vez houve uma alta mais disseminada, ainda que menor que em 2012."

Para fevereiro, os analistas ouvidos projetam que o IPCA irá desacelerar para algo próximo de 0,45%, puxado principalmente pelo impacto "cheio" do desconto nas contas de luz, mas também por altas menores dos preços de alimentos como reflexo da descompressão já observada no atacado. O índice em 12 meses, no entanto, deve permanecer rondando os 6% ao menos até o terceiro trimestre.



Veículo: Valor Econômico


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