País tem uma das menores taxas de estreantes na lista de quem vende para o exterior, segundo o Banco Mundial
Poucos entrantes e número decrescente sugerem produtividade baixa ou altos custos para exportar, diz estudo
Indicadores coletados pelo governo e pelo Banco Mundial apontam que o Brasil, além de ser um dos países mais inóspitos para o surgimento de empresas exportadoras, tem se tornado ainda mais hostil nos últimos anos.
Para especialistas, os resultados refletem a perda de competitividade da produção nacional e lançam dúvidas sobre a solidez do aumento do comércio com o exterior dos últimos anos.
Em uma base de dados elaborada pelo Banco Mundial com o desempenho de 45 países, a maioria emergentes, o Brasil aparece com a mais baixa taxa de entrada em sua lista de exportadores.
Entre 2006 e 2008, em média, apenas 22% das empresas exportadoras eram estreantes na venda para o mercado externo, contra 38% no conjunto das economias pesquisadas pela entidade.
Há dez anos, quando o volume exportado pelo país não chega a um terço do atual, a taxa de entrada brasileira chegava aos 30%.
DESCENDO O ABISMO
Números preocupantes, dizem os economistas Otaviano Canuto, Matheus Cavallari e José Guilherme Reis, autores do estudo "Exportações brasileiras: descendo um abismo ["cliff", em inglês] de competitividade".
"Novos exportadores são em média mais eficientes que os não exportadores. Taxas de entrada baixas e decrescentes podem ser associadas a baixa produtividade das firmas e/ou a altos custos para exportar", diz o texto.
"A exportação fortalece a empresa. Ela passa a conhecer seus adversários e se prepara para enfrentá-los melhor no mercado nacional. Se isso não acontece, ela acaba sendo engolida mais à frente pelos importados", afirma José Augusto de Castro, presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil.
As estatísticas mais atualizadas do Ministério do Desenvolvimento mostram que o número de exportadores cai no país desde 2007, quando foi adotado o atual método de contagem, que inclui as vendas pelos Correios.
Desde então, o número de empresas caiu de 20,9 mil para 18,6 mil no ano passado, embora as exportações tenham se elevado de US$ 160,6 bilhões para US$ 242,6 bilhões -mesmo com a queda contabilizada em 2012.
MAIS CONCENTRADAS
Em outras palavras, as exportações ficaram mais concentradas em menos empresas, em geral de maior porte. No mesmo período, aumentou a participação de produtos primários na pauta, com queda dos industrializados.
Segundo a Associação de Comércio Exterior, hoje cerca de mil empresas são responsáveis por 85% do total de exportações brasileiras.
O câmbio desfavorável -o dólar barato torna os produtos nacionais mais caros no exterior- é frequentemente apontado como a principal razão para os resultados.
Segundo Welber Barral, consultor e ex-secretário de Comércio Exterior, o empresário brasileiro não é competitivo com o dólar abaixo de R$ 2, como ocorria até 2011.
"Abaixo disso você não consegue exportar. A não ser que seja algo muito especializado, de tecnologia de ponta, o que quase não temos." A advogada especialista em comércio exterior Carol Monteiro de Carvalho também afirma que o câmbio é a maior causa de desistência entre as empresas que a consultam. Segundo ela, a burocracia não é mais um entrave.
Para Canuto, Cavallari e Reis, embora o câmbio tenha de fato prejudicado a competitividade, fatores como o lento avanço da produtividade e o aumento dos custos de mão de obra também tiveram papel importante.
Veículo: Folha de S.Paulo