Famílias consumiram 3,1% mais, mas avanço pode ter chegado ao limite
Com melhores salários e condições de crédito, o brasileiro foi às compras e sustentou a economia em 2012. Adquiriu mais celulares e televisores, acessou mais a internet, frequentou mais restaurantes. Ao todo, a família brasileira consumiu 3,1% mais no ano passado do que no anterior, principalmente serviços de informação, contrariando as perspectivas mais pessimistas de que a política econômica de incentivo ao consumo se aproximava do esgotamento. Por tabela, carregou o setor de serviços, que avançou 1,7% em 2012.
A estudante de pós-graduação Anastácia Santos é um exemplo de brasileira que consumiu novos serviços no ano passado, quando passou a receber bolsa de estudo da Capes. Em vez de recorrer a sebos de livros, como antes, passou a frequentar livrarias e adquirir livros novos - "um luxo", segundo ela.
Herança do governo Lula, a nova classe média ainda rendeu louros no segundo ano de governo da presidente Dilma Rousseff. Porém, o questionamento hoje é sobre a capacidade desse grupo de estreantes no mercado consumidor continuar contribuindo com a expansão da economia.
"Há um movimento geral de desaceleração da economia. Será que o mercado de trabalho, que vem empurrando o consumo das famílias e o setor de serviços, não atingiu o limite?", ressalta o economista do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV) Silvio Salles.
Na verdade, embora o PIB de Serviços tenha superado com folga a indústria e a agropecuária no ano passado, o ritmo é de desaceleração. O resultado de serviços de 2012 foi o menor desde 2003 (0,8%). Sales questiona também o quanto os segmentos de serviços que estão crescendo são capazes de agregar valor à economia.
O grupo de "outros serviços", o de maior peso no setor, com 22,6% de participação no total no ano passado, é caracterizado por ser um grande empregador, porém de uma mão de obra menos qualificada, com menos produtividade. É um segmento bastante heterogêneo, que engloba desde salão de beleza até escritório de advocacia.
O comércio, o mais destacado dos serviços, em 2012 não foi tão bem, avançou apenas 1%, menos do que no ano anterior (3,4%). "As vendas estão desacelerando. A tal recuperação do nível de atividade não chegou ao comércio. Nunca o comércio fechou tantas vagas como em janeiro deste ano", destaca o economista da Confederação Nacional do Comércio Fábio Bentes.
São muitas as incertezas sobre a continuidade do crescimento do setor a partir deste ano, não só porque o mercado de trabalho e a consequente expansão da renda parecem ter atingido o limite, mas também porque o governo já não está tão disposto a continuar incentivando o consumo e, com isso, comprometer as metas de inflação.
Veículo: O Estado de S.Paulo