Setor químico, por exemplo, está estagnado há cinco anos, enquanto o consumo cresceu 7,1%
Os setores da indústria pressionados pela concorrência com os importados acumularam grandes perdas nos últimos anos. E o pior, na avaliação deles, é que não há certeza de que uma melhora virá, apesar da medidas do governo, como desoneração da folha de pagamento, redução da tarifa de energia elétrica e a queda da taxa básica de juros.
A indústria química, por exemplo, teve um déficit de US$ 28,1 bilhões em 2012. E, para este ano, projeta um déficit de cerca de US$ 30 bilhões se a economia brasileira crescer entre 3% e 4%, como prevê o governo.
De acordo com a Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim), o nível de produção do ano passado foi o mesmo de 2007, ou seja, a indústria ficou parada cinco anos. "Nesse período, o consumo de produtos químicos cresceu 7,1% no Brasil. Isso significa que o mercado cresceu, mas quem ocupou o espaço foram os produtos importados", afirma Fernando Figueiredo, presidente da entidade. Somente em janeiro, o déficit foi de US$ 2,3 bilhões.
Entre os problemas apontados por ele e que atingem o setor está o custo da matéria-prima no Brasil. Ela é mais cara do que nos Estados Unidos e na Europa. "O gás, utilizado como matéria-prima em alguns produtos, custa quatro vezes mais do que nos Estados Unidos", afirma Figueiredo.
A concorrência com importados nos últimos anos também fez com o setor têxtil registrasse um grande aumento no déficit - em 2012, foi de US$ 5,3 bilhões. Em 2005, o setor tinha um superávit de US$ 300 milhões.
"A indústria têxtil brasileira é produtiva dentro da fábrica, mas a importação está crescente. E é uma importação subsidiada. Na China, existem 27 tipos de incentivos feitos para a indústria de confecção", diz Aguinaldo Diniz Filho, presidente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit). No ano passado, o setor perdeu cerca de 7,6 mil empregos e o faturamento ficou em de US$ 56,7 bilhões. "O governo tomou algumas atitudes importantes, e a gente espera que elas possam maturar", afirma.
O setor calçadista também contabiliza perdas por causa da concorrência com os produtos vindos de fora do País. Em 2012, a perda de empregos chegou a 7 mil. E em janeiro deste ano, na comparação com o mesmo mês do ano passado, foram perdidos quase 10 mil empregos.
"Tudo isso acontece ao mesmo tempo em que o consumo de calçados brasileiros cresce", afirma Milton Cardoso, presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados).
No ano passado, de acordo com ele, o consumo físico cresceu cerca de 3% e a alta em valor foi de 6%. "Mas a indústria não conseguiu capturar essa melhora na dinâmica do mercado", diz.
Apesar do momento difícil, o setor calçadista ainda tem um saldo positivo. "O superávit, que já foi superior a US$ 2 bilhões, deverá ser inferior a US$ 1 bilhão este ano", diz Cardoso.
Na vida real do empresário Carlos Antônio Barbosa Cortêz, diretor da D’Milton Calçados, em Franca, interior de São Paulo, essa dificuldade do setor o levou a demitir funcionários nos últimos cinco anos por causa da redução da produção, fruto da concorrência com importados.
"A oscilação cambial, a alta carga tributária e também a concorrência com produtos chineses têm sido grandes empecilhos para a indústria calçadista, tanto a de Franca quanto a nacional", afirma. Ele diz ainda que o mercado internacional - visado para a exportação dos calçados - também está adverso, por causa da crise na Europa e nos Estados Unidos. / L.G.G.
Veículo: O Estado de S.Paulo