Após o governo iniciar, no mês passado, uma grande operação para coordenar as expectativas do mercado em relação à inflação, a presidente Dilma Rousseff recebeu uma boa notícia da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab): vários alimentos - o principal vilão da alta dos preços neste início de ano - devem ficar mais baratos a partir das próximas semanas.
Segundo a estatal, a tendência de queda será observada com mais clareza no arroz, milho, batata e carnes em geral. O tomate deve sofrer oscilações, e o feijão se manterá no atual patamar, podendo registrar altas "pontuais". A explicação é que o clima mais favorável, embora aquém do ideal, abriu caminho para uma recomposição da oferta após a quebra de produção do ano passado.
Em fevereiro, o preço do arroz medido pelo IPCA já recuou 0,57% em relação a janeiro, enquanto o grupo das carnes registrou queda de 0,13%. Só neste mês, segundo a Conab, o preço do arroz pago ao produtor caiu 5,21% em Sorriso (MT) e 9,38% em Pelotas (RS). O analista de arroz da estatal, Sérgio Roberto Santos, escreve em relatório que o mercado já começa a precificar o início da colheita do cereal.
Embora tenham subido neste início de ano, os preços da batata e do tomate deverão oscilar nos próximos meses e encerrar 2013 nos patamares atuais. A batata inglesa subiu 7,90% no IPCA de fevereiro. Já o tomate subiu, 20,17%, mas deve começar a cair a partir de abril.
O único produto que preocupa a Conab é o feijão. A previsão é que a produção deste ano fique entre 3 milhões e 3,1 milhões de toneladas, pouco acima das 2,9 milhões colhidas na última safra. O especialista em feijão da Conab, João Figueiredo Ruas, afirma que a previsão para o ano é de preços estáveis ou até mais altos para o consumidor. "Estamos tendo uma forte quebra na primeira safra, e a segunda corre risco", afirmou Ruas.
Em contrapartida, o milho tende a registrar uma desvalorização acentuada no segundo semestre. O Brasil deve produzir 76 milhões de toneladas do grão na safra atual, um recorde, com crescimento de 4% em relação ao ano passado. Além disso, os Estados Unidos podem aumentar a produção de milho em até 100 milhões de toneladas nesta safra, recuperando-se dos efeitos da pior estiagem em quase 50 anos em 2012.
O governo também atua em outras frentes para tentar frear a alta dos alimentos e bebidas, que registraram alta de 1,45% em fevereiro na comparação com janeiro. Na segunda-feira, o governo autorizou a importação de um milhão de toneladas de trigo para compensar a redução da oferta na Argentina, o principal fornecedor do cereal para o Brasil. No mês passado, a commodity registrou alta de 4,67%.
Além disso, o governo anunciou na semana passada a desoneração de uma série de produtos da cesta básica - carnes, peixes, café, açúcar, óleo de soja, manteiga e margarina, além de itens de limpeza e higiene pessoal. Outros produtos da cesta básica como arroz, feijão, farinha de trigo ou massa, batata, legumes, pão e frutas, já eram isentos de impostos federais.
A Conab e o Ministério da Agricultura confiam tanto na queda das commodities que a recomposição dos estoques públicos, bastante reduzidos, não será feita neste momento. Para repor os baixos volumes, foi criado um grupo de trabalho interministerial para definir políticas para compra de alimentos e grãos. "Sabemos que os preços devem cair, principalmente o milho, após julho. Vamos esperar a queda para comprar", disse um integrante do grupo.
Veículo: Valor Econômico